26/11/2024  09h43
· Guia 2024     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Contos
27/10/2007 - 07h13
Paixão alucinada
Celamar Maione
 

Leôncio deu um soco na mesa assustando a mulher e a filha.
- Já disse que é NÃO e pronto!
- Mas pai, o que o senhor tem contra ele?
- Não discuto com filha. É não e acabou! Encerrada a discussão.

A esposa, sentindo o marido exaltado, preocupou-se.
- Querido, senta e toma o café com calma, vai passar mal assim.
Acabaram de comer em silêncio. Quando Leôncio foi ao quarto, pegar as chaves do carro, a esposa foi atrás.
- Não consigo entender a raiva que você tem do Luizinho. Por que a Jane não pode namorar com ele? Você sabe de alguma coisa que a gente não sabe?
- Vai recomeçar a ladainha?
- Estamos só nós dois. Me explica. A Jane está com 16 anos, é quase uma mulher feita. Estamos no século vinte e um e não existe mais essa história de pai escolher namorado para a filha.
- Esse rapaz tem 25 anos! Começam a namorar, ela engravida e daqui a pouco temos um bebê para cuidar. É não e pronto!

Chateado com a insistência da esposa, deu as costas e saiu pisando firme. Laurinda não queria ver a filha pelos cantos da casa. A proibição deixou Jane tristonha. Além de perder o apetite, também perdeu o interesse pelos estudos. No caminho para o trabalho, o celular de Leôncio tocou. Ele parou o carro e atendeu irritado.
- O que você quer? Hoje, não! Amanhã. No mesmo lugar de sempre. Você me pega na rua do canal.

Leôncio desligou o celular, colocou um CD de música clássica e acelerou o carro. O pensamento foi longe. Enquanto isso, em casa, Jane chorava no colo da mãe.
- Não consigo entender esse ódio que papai tem do Luizinho.
- Ele não tem ódio do seu namorado, apenas quer preservá-la. Seu pai tem ciúme de você.
- Será? Ele nunca teve ciúme dos outros namorados. Estranho.
- Eles tinham a sua idade. Esse rapaz é bem mais velho.
- Mas gosto tanto do Luizinho, mãe! O que é que eu faço?
- Namora escondido, filha. Se seu pai descobrir, me entendo com ele. Agora vamos, não quero me atrasar para o trabalho e você tem prova hoje.

À noite, o clima durante o jantar foi pesado. Leôncio comeu num silêncio constrangedor. Depois da refeição, Jane trancou-se no quarto e ligou para Luizinho. Estava muito apaixonada pelo rapaz. Esbarraram-se quando ela saía do colégio. Foi amor à primeira vista. Ele a convidou para tomar um sorvete e uma semana depois estavam namorando. O idílio amoroso durou três semanas. O tempo de Leôncio encontrar Jane aos beijos com Luizinho, e proibir o romance.

No dia seguinte, o café da manhã foi silencioso. Leôncio parecia divagar. Nem implicou com o namoro da filha. Antes de sair para o trabalho, ele avisou:
- Vou chegar mais tarde hoje. Não me esperem para jantar.

No final do dia, saiu do trabalho apressado. Pegou o carro e estacionou na rua do canal, como havia combinado no dia anterior. Do outro lado da calçada um Vectra preto o esperava. Entrou no carro e falou em tom magoado:
- Luizinho, sabe que não gosto de chantagem. Usar minha filha? Isso é golpe baixo!
- Não, é paixão alucinada! Foi a única maneira que encontrei de fazer você voltar pra mim. Toma coragem e assume nosso amor, Leôncio.
- Não posso. Sou casado. Tenho mulher, filha, irmãos. Imagina o escândalo!
- Continuaremos clandestinos, então. Nosso ninho de amor nos espera. Vamos namorar um pouco? Você precisa relaxar.
- Não posso demorar.

Foram para o prédio de Luizinho. Leôncio era apaixonado pelo amante, mas não tinha coragem de assumir a relação, que já durava um ano. Disposto a tirar Luizinho do caminho, decidiu que aquele seria o último encontro. Beijaram-se apaixonadamente quando entraram no apartamento. Depois do sexo, Luizinho adormeceu. Leôncio esfregou as mãos, pensou na família e resolveu colocar um fim naquela romance cada vez mais perigoso e arriscado.

Pegou o facão que levava na mochila, e depois de hesitar por alguns segundos, fechou os olhos e deu mais de quinze facadas no amante. Em seguida, desarrumou o apartamento para simular um assalto, limpou as digitais, trocou de roupa e foi embora tomando cuidado para não ser visto. Pegou um ônibus até a rua do canal. Jogou a arma do crime e as roupas sujas de sangue no rio. Entrou no carro sem olhar para trás. No rosto, não havia arrependimento. Chegou em casa e encontrou a mulher e a filha jantando.
- Que bom que chegou, amor! Toma logo seu banho que ainda dá tempo de jantar com a gente.

Ficou meia hora debaixo do chuveiro. Sentou-se à mesa junto à mulher e à filha. Quando dava a primeira garfada, o telefone tocou. Laurinda foi atender e voltou tensa.
- Jane, Luizinho no telefone. Insistiu. Disse que aconteceu uma coisa terrível e tem urgência em falar com você.

Leôncio correu até o banheiro, se ajoelhou no chão, colocou o rosto dentro do sanitário e vomitou as vísceras.


Nota do Editor: Celamar Maione  é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Atualmente, é Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou, recentemente, Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.

PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "CONTOS"Índice das publicações sobre "CONTOS"
20/12/2022 - 06h19 Aquelas palavras escritas
20/10/2022 - 06h07 Perfil
30/06/2022 - 06h40 Ai eu choro
13/06/2022 - 06h32 Páginas de ontem
31/05/2022 - 06h38 É o bicho!
24/05/2022 - 06h15 Tocaia
ÚLTIMAS DA COLUNA "CELAMAR MAIONE"Índice da coluna "Celamar Maione"
21/05/2010 - 15h26 Rotina
11/05/2010 - 15h06 Sonhos
04/05/2010 - 13h12 Quem matou dona Shirley?
27/04/2010 - 07h45 Comportamento inadequado
22/04/2010 - 15h04 Bodas de prata
13/04/2010 - 15h28 O enxoval
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2024, UbaWeb. Direitos Reservados.