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Contos
22/10/2007 - 13h05
Na fila do paraíso
Celamar Maione
 

Final de noite. Renato e a namorada rodam a cidade de carro.
- Pára ali, Renato. Aquele ali.
- Tá cheio também, Heleninha. Olha a fila.
- Mas já fomos a quatro, todos cheios.
- Calminha, hoje é sexta-feira, lua cheia.

Heleninha fez biquinho.
- Droga, quero ficar sozinha com você.
- Então vamos parar naquele mesmo. Com sorte, antes de uma, a gente entra.

Renato deu a volta com o carro e parou na fila do motel. Três automóveis aguardavam a vez.
- Pronto, agora é esperar. Enquanto isso, amor, vem cá, me dá um beijo.

Heleninha empurrou o namorado com jeitinho e pegou a bolsa.
- Calminha. Quero mostrar uma coisa pra você.

Deu um sorriso malicioso, abriu a bolsa e tirou uma máscara, um perfume afrodisíaco e uma cinta-liga:
- Que tal? Gostou? Nosso presente de um ano de namoro.
- Você é demais! Vai ser uma comemoração inesquecível. Gostei, pensou em tudo.
- Fala a verdade, sou ou não sou a melhor namorada que você já teve?
- Deixa eu pensar. Hummmmm.
- Precisa pensar, Renato? Não entendi.
- Tava brincando. Deixa de ser tolinha.
- E a Silvia?
- O que é que tem a Silvia?
- Você ainda gosta dela?
- Pra quê tocar no nome da Silvia agora? Estamos tão bem aqui, nós dois. Tá chegando nossa vez.
- Você esqueceu a Silvia? Responde, sinceramente.
- Que pergunta sem sentido!
- Mas você está demorando muito a responder.

O clima ficou pesado. A vez deles se aproximava e o mal-estar aumentava. Heleninha era birrenta. Quando cismava com alguma coisa, se tornava chata e Renato, orgulhoso, não se rendia aos caprichos da namorada.
- Estou ficando irritado. Isso não vai terminar bem. Vamos parar.
- Naquele sábado que a gente brigou você ligou para ela, eu vi o número no seu celular, eu vi, Renato, não mente.
- Qual é Heleninha, inquérito agora?! Na porta do motel?!
- Só entro nesse motel se me disser a verdade.
- Tá bom! Liguei sim. Qual o problema? Somos amigos. A Silvia foi a namorada que mais gostei. Mas passou, acabou.
- Então eu tinha razão. Por isso que você não queria falar, né?
- Nada disso. Não queria tocar no assunto. Você que insistiu. Como não sei mentir...
- Não sabe mentir?! Me engana que eu gosto - debochou.
- Pára com isso! Esquece. Vem cá.

Renato puxou Heleninha. Ressentida, ela se desvencilhou e colocou o rosto para fora do carro.
- Gente, meu namorado não sabe mentir. É um homem sincero demais. Vocês acreditam em homem sincero?

A fila crescia. Nos outros carros, os casais comentavam. Renato envergonhou-se. Puxou a namorada.
- Olha o vexame! Nós estamos na porta de um motel! Isso é escroto.
- Escroto é você. Faz um ano de namoro comigo e pensa em outra.
- Mas quem disse que eu penso em outra? Você que começou com esse papo.

A vez deles chegou. Heleninha abriu a bolsa e jogou a cinta-liga, o perfume e a máscara no rosto de Renato.
- Você vai comemorar sozinho.

Saiu batendo a porta. A recepcionista deu a chave do quarto. Renato não sabia se ia atrás da namorada, se pegava a chave, se ia embora, se entrava no motel. Heleninha foi embora de táxi. Os motoristas dos outros carros começaram a buzinar.
- Bora, cara! Vai atrás da mulher. Sai da fila. A gente quer entrar!
- É isso aí. Anda. Ficou na mão. Se manda! Dá a vez para outro.

Furioso com a gritaria, entrou no motel de pirraça. Ligou para Heleninha, mas o celular estava desligado. Pensou durante alguns segundos e tomou coragem.
- Silvia, sou eu, Renato.
- Aconteceu alguma coisa? Ligar para a minha casa a essa hora.
- Tá fazendo o quê?
- Tava quase dormindo.
- Sabe onde estou?
- Sei lá! Não tenho bola de cristal.
- No paraíso.

Silvia se chateou e nem deixou o ex completar a frase.
- Você é muito cara-de-pau. Me liga do motel para me sacanear?
- Estou ligando para chamar você pra vir pra cá, recordar os velhos tempos.

Silvia se calou durante alguns segundos. Respirou fundo e decidiu.
- Me dá o endereço. Estou indo.
- Ah, sim, eu tenho aqui comigo uma máscara, uma cinta-liga...
- Tô indo. Até já!

Enquanto espera Silvia, Renato enche a banheira de hidromassagem, liga o rádio e sai dançando pelo quarto.
- Mulheres! Quem as entende?! Eu quero é mais! Ulálá!!


Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Atualmente, é Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou, recentemente, Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador , mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.

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