Final de noite. Renato e a namorada rodam a cidade de carro. - Pára ali, Renato. Aquele ali. - Tá cheio também, Heleninha. Olha a fila. - Mas já fomos a quatro, todos cheios. - Calminha, hoje é sexta-feira, lua cheia. Heleninha fez biquinho. - Droga, quero ficar sozinha com você. - Então vamos parar naquele mesmo. Com sorte, antes de uma, a gente entra. Renato deu a volta com o carro e parou na fila do motel. Três automóveis aguardavam a vez. - Pronto, agora é esperar. Enquanto isso, amor, vem cá, me dá um beijo. Heleninha empurrou o namorado com jeitinho e pegou a bolsa. - Calminha. Quero mostrar uma coisa pra você. Deu um sorriso malicioso, abriu a bolsa e tirou uma máscara, um perfume afrodisíaco e uma cinta-liga: - Que tal? Gostou? Nosso presente de um ano de namoro. - Você é demais! Vai ser uma comemoração inesquecível. Gostei, pensou em tudo. - Fala a verdade, sou ou não sou a melhor namorada que você já teve? - Deixa eu pensar. Hummmmm. - Precisa pensar, Renato? Não entendi. - Tava brincando. Deixa de ser tolinha. - E a Silvia? - O que é que tem a Silvia? - Você ainda gosta dela? - Pra quê tocar no nome da Silvia agora? Estamos tão bem aqui, nós dois. Tá chegando nossa vez. - Você esqueceu a Silvia? Responde, sinceramente. - Que pergunta sem sentido! - Mas você está demorando muito a responder. O clima ficou pesado. A vez deles se aproximava e o mal-estar aumentava. Heleninha era birrenta. Quando cismava com alguma coisa, se tornava chata e Renato, orgulhoso, não se rendia aos caprichos da namorada. - Estou ficando irritado. Isso não vai terminar bem. Vamos parar. - Naquele sábado que a gente brigou você ligou para ela, eu vi o número no seu celular, eu vi, Renato, não mente. - Qual é Heleninha, inquérito agora?! Na porta do motel?! - Só entro nesse motel se me disser a verdade. - Tá bom! Liguei sim. Qual o problema? Somos amigos. A Silvia foi a namorada que mais gostei. Mas passou, acabou. - Então eu tinha razão. Por isso que você não queria falar, né? - Nada disso. Não queria tocar no assunto. Você que insistiu. Como não sei mentir... - Não sabe mentir?! Me engana que eu gosto - debochou. - Pára com isso! Esquece. Vem cá. Renato puxou Heleninha. Ressentida, ela se desvencilhou e colocou o rosto para fora do carro. - Gente, meu namorado não sabe mentir. É um homem sincero demais. Vocês acreditam em homem sincero? A fila crescia. Nos outros carros, os casais comentavam. Renato envergonhou-se. Puxou a namorada. - Olha o vexame! Nós estamos na porta de um motel! Isso é escroto. - Escroto é você. Faz um ano de namoro comigo e pensa em outra. - Mas quem disse que eu penso em outra? Você que começou com esse papo. A vez deles chegou. Heleninha abriu a bolsa e jogou a cinta-liga, o perfume e a máscara no rosto de Renato. - Você vai comemorar sozinho. Saiu batendo a porta. A recepcionista deu a chave do quarto. Renato não sabia se ia atrás da namorada, se pegava a chave, se ia embora, se entrava no motel. Heleninha foi embora de táxi. Os motoristas dos outros carros começaram a buzinar. - Bora, cara! Vai atrás da mulher. Sai da fila. A gente quer entrar! - É isso aí. Anda. Ficou na mão. Se manda! Dá a vez para outro. Furioso com a gritaria, entrou no motel de pirraça. Ligou para Heleninha, mas o celular estava desligado. Pensou durante alguns segundos e tomou coragem. - Silvia, sou eu, Renato. - Aconteceu alguma coisa? Ligar para a minha casa a essa hora. - Tá fazendo o quê? - Tava quase dormindo. - Sabe onde estou? - Sei lá! Não tenho bola de cristal. - No paraíso. Silvia se chateou e nem deixou o ex completar a frase. - Você é muito cara-de-pau. Me liga do motel para me sacanear? - Estou ligando para chamar você pra vir pra cá, recordar os velhos tempos. Silvia se calou durante alguns segundos. Respirou fundo e decidiu. - Me dá o endereço. Estou indo. - Ah, sim, eu tenho aqui comigo uma máscara, uma cinta-liga... - Tô indo. Até já! Enquanto espera Silvia, Renato enche a banheira de hidromassagem, liga o rádio e sai dançando pelo quarto. - Mulheres! Quem as entende?! Eu quero é mais! Ulálá!! Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Atualmente, é Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou, recentemente, Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador , mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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