Assim que chegou ao aniversário de Simone, Acacinha apontou para um rapaz alto e moreno que conversava com um grupo e falou com Sônia: - Está vendo aquele moreno lindo ali? - Sim, estou. O que tem ele? - O homem da minha vida! - Conhece de onde? - Nunca vi mais gordo. Primeira vez. - Tá doida? Você não sabe se o cara é casado, se tem namorada. - Não interessa. Olhei, gostei e estou dizendo: é o homem da minha vida. - Mas ele pode ser gay, não gostar de você, milhões de coisas. - Vai gostar, eu garanto. Vou pedir para a Simone me apresentar. Cadê ela? Encontraram a aniversariante conversando com duas amigas. Afoita, Acacinha puxou-a pelo braço: - Quem é aquele moreno de camisa azul listrada? Aquele ali! - e apontou. - É o Claudecir. Por quê? - É o homem da minha vida. - Ihhh Acacinha, desencana. O cara está de casamento marcado. - Casamento termina até na porta da Igreja. Me apresenta? Não havia argumento que fizesse Acacinha desistir. Foi acometida daquelas cismas que viram idéia fixa. Quando as três se aproximaram do grupo, Acacinha notou que Claudecir se despedia. Aproveitou para pedir carona. O rapaz não teve como negar. Antes de sair, Sônia segurou Acacinha pelo braço e recomendou: - Juízo, hein? O cara vai casar. Acacinha sorriu maliciosamente: - Não vai ter casamento. Ele é o homem da minha vida. Sônia preocupou-se. Sabia que a amiga era um poço de mimo e não aceitava contrariedades. Acacinha não precisou se esforçar para seduzir Claudecir e convencê-lo a entrar num motel. Amava a noiva, mas era viciado em traição. Quando acordou no dia seguinte, recuperado da bebedeira, Claudecir tomou um susto ao ver Acacinha. Enquanto ela sonhava com a noite, ele a pressionava: - Quase 10 da manhã. Combinei de almoçar com minha noiva. Vamos embora já! Acacinha sentiu-se um lixo. Uma mercadoria usada e jogada fora. Queria puxar assunto, mas não recebeu atenção: - Me diz logo onde você mora, estou com pressa. - Quando a gente se vê novamente? - Desculpe, não prometi nada. Não me leve a mal, sou noivo, vou casar. Acacinha emburrou. Saiu do carro batendo a porta. Nunca fora tão humilhada em toda a vida. Ligou para Sônia e ainda levou sermão: - Eu avisei. O cara tem fama de conquistador barato. - Esse casamento não sai, Sônia! Só passando por cima do meu cadáver. Ele vai engolir essa fama, ou não me chamo Acácia da Luz! Como toda mulher rejeitada, ressentiu-se e batia o pé igual criança mimada: - Será uma vingança e tanto! Um grande vexame! Ele vai ser meu! Só meu! Planejou a vingança. Queria algo que causasse um grande constrangimento para o noivo mulherengo. Ficava horas deitada na cama olhando para o teto a ruminar pensamentos. A mãe não entendia a abstração de Acacinha: - Vem jantar, filha. O que tanto você olha para o teto? - Não estou com fome! A vingança é um prato que se come frio! E ria descontroladamente. No dia do casamento, na hora da cerimônia, Acacinha estava na porta da Igreja. Assim que a noiva entrou, falou com Babizinha que a acompanhava: - Vai, hora do show! Babizinha era um travesti desengonçado, de um metro e oitenta de altura, magro, de cabelos longos e pretos, calçava sandálias douradas e estava com um minivestido vermelho. Quando Babizinha entrou na Igreja chorando alto, os convidados olharam para trás. O travesti correu em direção ao altar gritando: - Você não pode me deixar, Claudecir! Não casa com essa baranga! A noiva indignou-se: - Que palhaçada é essa? O padre rezou um Pai Nosso. Alguns convidados riam, achando que era uma pegadinha. Burburinho geral. Babizinha gritava, esperneava, chamava Claudecir de amor, ele não conseguia reagir. Abobalhou-se. A noiva caiu nos braços do padrinho: - Bem que você me dizia que ele era gay! Agora podemos ficar juntos! Enquanto a confusão continuava na Igreja, Acacinha colocou os óculos, pegou um bloquinho e rabiscou, pensando alto: - Primeiro plano foi um sucesso. Hora de colocar o segundo plano em prática. Guardou o caderninho e prometeu a si mesma que nunca deixaria Claudecir em paz. Saiu cantarolando pela rua: - A vingança é um prato que se come frio. A vingança é um prato que se come frio, lá-lá-lá-lá-lá. Voltou. Foi até o estacionamento da Igreja. Furou os quatro pneus do carro de Claudecir, deu uma risada débil e novamente saiu cantarolando: - A vingança é um prato que se come frio, lá-lá-ri-lá-lá-lá. Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Atualmente, é Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou, recentemente, Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador , mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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