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Contos
23/08/2007 - 17h02
Amor esotérico
Celamar Maione
 

Quando Adriana chegou à casa da amiga, foi atendida pela mãe:
- Boa noite dona Sônia. Raquel está pronta?
- Não sei. Tá no quarto trancada o dia inteiro fazendo meditação.
- Posso ir até lá?
- Claro. Vê se consegue tirar minha filha de casa.

Adriana bateu cuidadosamente na porta:
- Raquel, sou eu. Posso entrar?
- Entra.
- Não está pronta?
- Não vou.
- Clarice vai ficar aborrecida. É aniversário dela.

Raquel não escutava a amiga. Recolhia os incensos, gnomos, fadas, duendes e cds de música new age.
- Acorda, Raquel. Tá no mundo da lua?
- Desculpe. É que acabei de praticar meditação.
- Posso saber o que tanto você medita?
- Estou tentando um contato com a minha alma-gêmea.
- Que história é essa de contato?
- Fui a uma taróloga e ela me disse que para encontrar minha alma-gêmea preciso praticar meditação.
- Você e essas manias. Vamos à festa. Sua alma-gêmea pode estar lá.
- Negativo. Não posso me contaminar com esse mundo superficial e festivo. Preciso me purificar para um encontro astral evoluído.

Não insistiu. Sabia das esquisitices de Raquel. Antes de sair, porém, falou com dona Sônia:
- É bom a senhora ficar de olho na Raquel. Anda estranha. Tá fanática com esse negócio de meditação, fadas, gnomos etc. Vive no mundo da lua.

Todo esse interesse pelo mundo astral começou depois de ser abandonada pelo noivo. Faziam planos de casamento, mas o rapaz terminou para ficar com outra. Muito sensível, a jovem não suportou o golpe. Refugiou-se no mundo da fantasia.

Esperando encontrar respostas para sua dor consultou cartomantes, numerólogos e fez mapa astral. Nesta procura encontrou Madame Samantha. A taróloga convenceu Raquel a buscar a alma-gêmea através da meditação. "Era apenas uma questão de paciência", - dizia.

Confiando em Madame Samantha, passou a consultá-la para pedir conselhos. Ela virou uma espécie de guru. Raquel abandonou festas e passeios com as amigas para desvendar os segredos do universo. Quando estava em casa, ficava no quarto meditando em busca de contatos astrais. A busca virou obsessão. Meditava até para escolher a comida ideal.

Durante dois anos se envolveu num mundo fantasioso à procura de respostas, principalmente sentimentais. No entanto, as respostas não chegaram e as consultas tornaram-se repetitivas. Ansiosa por novidades, pressionou a taróloga:
- A senhora disse que minha alma-gêmea seria encontrada em pouco tempo. Dois anos e nada. Haja paciência!
- Sua ansiedade está lhe afastando do astral maior. Posso sentir.
- E o rapaz do restaurante? A senhora me falou da possibilidade de sermos almas-gêmeas, mas ele sumiu.
- Possibilidade não confirmada. Vai pra casa tranqüila. Semana que vem terei uma resposta definitiva.

Na semana seguinte, Raquel foi à consulta com o coração esperançoso:
- Alguma novidade?
- Vamos ver o que as cartas dizem?

Madame Samantha dividiu o baralho. Pediu para Raquel tirar uma carta. Fez suspense. Repartiu o baralho. Jogou as cartas na mesa, embaralhou-as. O suspense aumentava. Raquel esfregava as mãos suadas:
- Nada?
- É preciso concentração. Concentre-se.

Mais uma vez pediu para Raquel dividir as cartas. Espalhou-as em cima da mesa e balançou a cabeça com os óculos na ponta do nariz:
- Infelizmente sua alma-gêmea nasceu no Japão e você não irá encontrá-la fisicamente nesta vida. Mas mentalmente a possibilidade é grande.

Ficou decepcionada:
- O quê?! Japonês?! Por que nasceu tão longe?
- Compromissos assumidos em outras vidas. Pendências a resolver. Um problema geográfico. Continue mentalizando para encontrá-lo através do pensamento.

Desacreditada, Raquel pediu à Madame para jogar mais uma vez:
- Não dá. É definitivo. As cartas não mentem jamais.

Insatisfeita, prometeu a si mesma procurar outras respostas. Queria ser tocada, beijada, não agüentava mais namorar em pensamento. Antes de ir para casa, passou numa banca e comprou todos os jornais. Ansiosa, folheou os classificados. Uma semana depois, pegava um ônibus para a Baixada Fluminense. Se consultaria, pela primeira vez, com um pai-de-santo, famoso pelas suas previsões e rituais.


Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi e atualmente trabalha na Nova Brasil FM. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.

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