Quando Albertino Junior chegou na festa de oitenta anos de tia Vitória houve constrangimento entre os familiares. Com uma saia justa preta, blusa de renda amarela, sapatos plataforma prateados e peruca loira, Albertino entrou, de mãos dadas com o novo namorado, Olavinho. Olavinho é desses homens que se confundem com um príncipe do século vinte e um. Alto, moreno, olhos verdes, musculoso, dentes alvos e sorriso encantador. Assim que chegou, atraiu a atenção das primas solteironas do namorado, que comentaram invejosas: - Gislene, que mundo é esse! O que é isso? Nós aqui sozinhas e o gayzão do Albertino com este homem lindo. - Ele está escancarando! Não disfarça mais a viadagem. Assumiu mesmo. Albertino chegou, sorrindo, sem demonstrar a menor vergonha, e foi abraçar a aniversariante: - Tia linda, fofa, espero que a senhora goste do que comprei. Aproveitou e apresentou Olavinho como futuro noivo. Em seguida, Albertino foi falar com o restante da família e tia Vitória começou a passar mal: - Pega meus remédios da pressão em cima da mesinha de cabeceira do quarto, Cremilda! Anda, rápido! Alheio à confusão que se formou, Albertino foi falar com as primas: - Margareth, você está uma fofa! Vestido maravilhoso! Adorei, prima! A-do-rei! Depois, aproximou-se de Gislene, passando as mãos pelos cabelos dela. Respirou fundo e fez cara de nojo: - Nossa, Gis!! Você está com esse cabelo ressecadíssimo! Precisa de uma hidratação urgente. Passa no salão. A hidratação sai de graça pra você. - E você, como está? Nossa, engordou mulher! Enquanto isso, Tia Vitória foi levada para o quarto, com falta de ar. Envergonhada, a mãe de Albertino se aproximou: - Albertino, sua tia passa mal por sua causa. - O que é que eu fiz? - Chocou sua tia vestido desse jeito. Ela não tem mais idade para ver essas coisas. - Que coisas, mamãe? Pelo jeito sou o único feliz aqui. Minhas primas são encalhadas e mal-amadas. E o primo Celinho? Me olha de cara feia. Ninguém mandou casar com aquele tribufu ao lado dele. Mulher horrorosa! A mãe, inconformada com a atitude do filho único, olha para o alto se perguntando: - Deus, onde errei? - Você não errou. Me assumi! Sou feliz. No quarto, tia Vitória reclamava de falta de ar. Marinete, a irmã mais velha, rezava um terço, excomungando o sobrinho. Cremilda abanava Vitória: - Você quer que eu peça para o Albertino ir embora? - Não! - respondeu tia Vitória, rapidamente. - Albertino chocou você e choca os convidados. Atrapalha sua festa de aniversário. - Chama ele aqui. - pediu tia Vitória, com a voz abafada. Cremilda tentou argumentar. Vitória insistiu. Cremilda foi até a sala e encontrou Albertino dançando com Olavinho. Celinho resmungava com a esposa de olhar caído: - Ridículo ter um primo traveco. Se no trabalho descobrem... Que vergonha! O que vou dizer ao meu chefe? Sou macho. A esposa aproveita a ocasião insólita e fala o que pensa: - Macho? Sei não. Adora vestir minhas calcinhas. Enquanto brigavam, Cremilda se aproximou e cochichou no ouvido de Albertino. Ele acompanha Cremilda até o quarto. É recebido com um sorriso por tia Vitória. Ela pega-lhe nas mãos e pede que sente na cama ao lado dela. Depois, fala baixinho com o sobrinho. Ele dá uma gargalhada, que ecoa no quarto: - Então é isso? Saudade, tia? - Exatamente. - Realizarei seu desejo. Licencinha meninas! E sai empurrando as tias que estão na porta. Volta, acompanhado de Olavinho. Olavinho se abaixa e beija tia Vitória na boca. Um beijo longo, de língua. Tia Vitória se levanta da cama, dá as mãos a Olavinho. Nos lábios, um sorriso revigorante. Chega na sala e começa a dançar. Não larga mais Olavinho. Albertino sorri e fala com a mãe: - Tia Vitória sabe o que é bom. Os convidados ficam boquiabertos com o assanhamento da aniversariante. Os comentários não pararam mais: - Velha assanhada! - Só pode estar esclerosada! Tia Marinete pegou a bolsa: - É o fim do mundo! Vou me embora. Na hora do parabéns, tia Vitória choca ainda mais. Ela beija Olavinho na boca, na frente de todos os familiares e vizinhos. Quem olhava a tudo, de um canto da sala, com olhar invejoso, esfregando as mãos e engolindo em seco, era Celinho. Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Atualmente, é Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou, recentemente, Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador , mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
|