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Contos
26/05/2007 - 05h33
A caixa (vingança de mulher)
Celamar Maione
 

Lucinda e Albertina saíram da faculdade e iam em direção ao carro de Albertina quando Lucinda vira-se para a amiga e de um fôlego só diz:
- Você foi traída pela Olímpia.
- Traída?! Como assim? Me diga que história estapafúrdia é essa de traição?!
- Me arrependi de ter falado. Não sei se conto.

Albertina irrita-se e pára no meio da rua ordenando:
- Agora que você começou, pode acabar o que falou. Não gosto de nada pela metade. Fala! Anda!
Lucinda coloca a mão na boca, faz cara de arrependimento.
- Devia ter ficado calada!
- Não ficou. Agora fala. Por que Olímpia me traiu?
- Ela e o Jorge estão ficando.
- Ficando?! Como ficando???!!!
- Estão saindo juntos. Já foram até para a cama. Quem me falou foi a...

Indignada, Albertina interrompe Lucinda:
- Aquela cadela! Se dizia minha amiga e está de caso com o meu ex?! Ela sabe como venho sofrendo.

Decepcionada ao saber da novidade, Albertina começa a chorar e chama a atenção dos pedestres que passam. Lucinda entra em desespero:
- Albertina, pára, pelo amor de Deus, pára com essa choradeira, as pessoas estão olhando. Você tem que ser mais fria.
- Fria??!!! Você diz que a minha melhor amiga está de caso com o meu ex-namorado e eu tenho que ser fria? Tenho que achar graça por acaso? Tenho que achar que a vida é bela??? Ainda não cheguei a esse nível de evolução.
- Eu sei, mas escândalo não vai resolver. Tá todo mundo olhando.

Lucinda consegue pegar Albertina pelo braço e leva-a para dentro do carro. Conversam ainda durante uma hora. Albertina se lamenta e Lucinda aconselha. No final da conversa, fungando, Albertina pega um lenço de papel no porta-luvas do carro e, enxugando as lágrimas, diz:
- Essa vigarista me paga! Daqui a duas semanas é aniversário dela e ela vai dar uma festa no clube. Pois ela que me aguarde.

Lucinda se preocupa:
- O que vai fazer? Já estou ficando preocupada. Me arrependi de contar pra você.
- Quem viver verá!! Me aguarde.

Lucinda olhou com medo para Albertina. Naquele momento, ela percebeu um brilho diferente nos olhos da amiga. Assim que Albertina chegou em casa, ligou para Olímpia. Conversaram durante umas duas horas. Albertina não falou que sabia do caso dela com Jorge. Jogou umas indiretas. Mas a outra não se abriu. Albertina desligou o telefone indignada:
- Que falsa! Caladinha. Sai com meu ex-namorado, sabe que gosto dele e não me diz nada. Fingida. Vai me pagar, se vai.

No dia seguinte, assim que saiu da faculdade, foi até uma papelaria e comprou uma caixa enorme. Albertina recusou a companhia de Lucinda:
- Não preciso de ninguém no meu pé. Preciso planejar umas coisas.
- O que vai fazer? É alguma besteira? Estou preocupada.
- Não se preocupe. No dia do aniversário daquela baranga você vai ver. Me deixa.

Durante as duas semanas que antecederam a festa de aniversário de Olímpia, Albertina esteve concentrada na sua vingança. Deixou a caixa comprada no quartinho dos fundos de casa e todo os dias dava um dinheiro para o primo, Alfredinho, de 12 anos, ir até lá. Só ele sabia o que Albertina estava planejando. Guardou segredo, em troca do dinheiro, das balas e sorvetes que ela comprava.

No dia da festa de Olímpia, Albertina passou duas horas na frente do espelho. Antes de ir, procurou Alfredinho e, em troca, deu mais dez reais a ele:
- Posso levar a caixa? Tem certeza que ela não vai abrir no meio do caminho?
- Não vai abrir não. Tá fechada direitinho. Confia no seu priminho aqui!
- Olha lá, hein?!!

Quando Albertina chegou na festa com aquela caixa enorme, Lucinda correu em direção a ela:
- Amiga, o que é isso?
- Ué, o presente dessa baranga.
- Albertina, o que você está aprontando? Me diz, ainda dá tempo de voltar atrás.
- Cadê a aniversariante? E aquele corno do Jorge? Tá aí?
 
Os dois vieram de mãos dadas em direção a Albertina. Foi um soco na boca do estômago dela. Fingiu que não se importava. Deu um abraço em Olímpia. Se fingiu de amiga. Disse que o presente deveria ser aberto na hora do bolo. Conversaram um pouco. Jorge e Olímpia se despediram e saíram para dançar. Albertina falou, entre os dentes, para Lucinda:
- Que cara-de-pau!! Mas vão me pagar. Obrigada por ter me contado tudo. Imagina se você não me conta? Hoje eu ia ter a maior surpresa vendo os dois juntos e, pior, não ia poder armar minha vingança.

Na hora do bolo, a família de Olímpia estava toda reunida. Albertina foi até ela e lhe entrou a caixa:
- Toma, amiga. A prova da minha amizade. Espero que você goste.
Olímpia sacudiu a caixa:
- Tá vazia? Está leve. Você está aprontando alguma, hein? - disse, em tom de brincadeira.
- Pode abrir. É seu presente. Vai adorar!

Olímpia dá um abraço emocionado em Albertina e lhe pede desculpas:
- Quero pedir desculpas por não ter contado que eu e o Jorge estamos juntos. A gente não tem culpa. Nos apaixonamos e...
- Está perdoada. Abre o seu presente.

Olímpia começou a abrir a caixa. Albertina saiu de fininho e foi para a porta. Quando Olímpia abriu a caixa, deu um grito assustador. Centenas de baratas começaram a voar, completamente zonzas e sem direção. Algumas pousaram no bolo, outras no vestido de Olímpia. Os convidados corriam, assustados, algumas mulheres desmaiaram, outras gritavam histéricas:
- Socorro! Baratas! Mata, mata!!! Vou morrer!
- Tira esse bicho de cima de mim! Que nojo!!

Olímpia ficou de sutiã e calcinha, quase voando, junto com as baratas. A festa acabou numa grande correria, com muita mulher nua e homens tentando matar as baratas bem nutridas e voadoras.

Albertina, que tudo acompanhou de longe, saiu da festa de alma lavada.


Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Atualmente, é Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou, recentemente, Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador , mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.

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