Rogério olhou o relógio e tomou um susto. Seis da tarde. Fim de expediente. Ligaria para Soninha e combinaria de passar na casa dela. Discou o número e esperou a namorada atender. Do outro lado da linha, atendeu uma voz de mulher que ele não conhecia: - Por favor, a Soninha?! - Soninha? Quem está falando? - É o Rogério. Namorado dela. - Aqui não tem nenhuma Soninha. - Ah, desculpe. É engano. Ia desligar. A voz do outro lado, bonita e sensual, puxou assunto: - Eiiiiii... não serve a Melissa? - Melissa? Não. Eu quero falar com a Soninha. Desculpe. - Me chamo Melissa. Adorei sua voz. - Obrigado. Mas preciso desligar. Tenho que falar com a Soninha. - Deixa a Soninha para lá. Você não quer me conhecer? Não vai se arrepender. Um arrepio percorreu o corpo de Rogério. Aquela voz sensual despertou nele um interesse sexual grande. - Faz o seguinte, Melissa, me dá seu telefone que eu ligo de volta. - Não entendi. Está desconfiando de mim? - Você pode ser amiga da Soninha. Quer que eu caia numa cilada. Não sou bobo. - Amiga da Soninha? Você tem uma imaginação fértil, hein! Está com medo de quê? Fala, confessa, você também gostou de mim. - Tá, eu confesso. Você tem uma voz linda. Mas voz engana... - Você quer saber como eu sou? Eu digo. - Tá! Me diz como você é, então. - Sou alta, magra, corpo malhado em academia, cabelos pretos, longos, olhos amendoados e tenho só 20 aninhos. E você? Como você é, Rogério? - Eu sou alto, branco, estou precisando dar uma malhadinha. - Hummmmmm! Adoro homens com barriguinha sensual! Já vi que vou gostar de você. Vamos nos encontrar? - Desculpe, Melissa. Eu tenho mesmo que ligar para a minha namorada. Ela deve estar me esperando. - Há quanto tempo vocês namoram? - Uns três meses. - Pouco tempo. Você está apaixonado? - Gosto dela. Apaixonado? Não. Nunca me apaixonei por ninguém. - Então vai se apaixonar por mim. Quantos anos você tem? - Eu tenho 26. Adoro homens na sua idade! São sensuais, fortes, viris. Quando é que a gente vai se conhecer? - Já disse para você me dar o seu telefone. Eu ligo depois pra você. Antes, preciso ligar para a Soninha. Vai gata, me dá seu telefone. - Ah, não, vou fazer biquinho. Olha o meu biquinho. Quero você agora. Vamos nos encontrar. Estou cheia de tesão. Rogério coçou a cabeça. Olhou o relógio. Daqui a pouco, Soninha ia ligar para o celular dele, furiosa. E ele com outra no telefone. Rogério estava ficando excitado também. Resolveu levar o papo adiante. - Você também está me excitando. Sua voz macia está me deixando louco. Quem é você, gata? - Sou a mulher da sua vida. Estou esperando por você. Nada é por acaso. Não foi por acaso que você errou o número da sua namorada e ligou para a minha casa. - Tá, mas me dá o número da sua casa. Eu ligo de volta. - Não acredito em você. Se você nunca mais me ligar? Essa Soninha pode ser invenção sua. Como vou acreditar em você? - Me dá seu telefone. Juro que eu ligo. Estou interessado em você. Gosto de mulheres ousadas. - Vou dar o meu celular. Você me liga agora? Agorinha? Jura? - Juro. Vou ligar de volta. - Se eu der o número do meu celular para você, vamos sair hoje? - E a Soninha? Não posso dar bolo na namorada sexta-feira à noite. - Inventa que foi levar sua mãe ao médico. Você tem mãe? - Tenho. - Então. Uma boa desculpa. Aí se a gente se conhecer e você gostar de mim, é só terminar com a Soninha. - Tá. Deixa de papo e me dá o número do celular. Anda. Vai. - Anota aí: 9929... - Anotei. Ligo pra você já. Rogério desligou o telefone. Melissa, excitada, tirou o celular da bolsa. O telefone tocou. Atendeu, com o coração aos pulos. - Não disse que ligava, gata? - Já vi que você é um homem de palavra. Então, vamos ou não vamos sair? Estou morrendo de vontade. - Você não é fácil, hein gata? - Já disse, adorei a sua voz. Você parece um homem que chega junto. Sua voz está me deixando louquinha. - Eu também. Estou cheio de vontade. Como é que a gente faz? - Aonde você está? - No trabalho. No centro da cidade. - Eu também. Me dá seu endereço que eu já me encontro com você. Combinaram de se encontrar em uma hora, na porta do trabalho de Rogério. Enquanto isso, ele ligaria para Soninha e daria uma desculpa qualquer. - Então, combinado. Vou descer e esperar você na portaria daqui a uma hora. Você está com uma calça jeans, blusa preta. - É isso mesmo. Já estou de saída. Não vejo a hora. Até já. Desligou o celular. E gritou por Soninha: - Soninha? Já acabou de tomar banho? Soninha apareceu só de toalha na sala: - Alguém me ligou? Rogério ligou? - Até agora não. - Ué, vai aonde com essa bolsa? - Urgência, amiga. Minha mãe ligou para o meu celular agora. Quer que eu vá na casa da tia Esmeralda com ela. Amanhã a gente se fala. - Queria tanto que você conhecesse o Rogério. Homem como ele não existe. Romântico, amigo. Estou tão feliz, amiga. - Outro dia você me apresenta. Lembranças ao Rogério. Preciso ir. Adoro você, amiga. Beijinhos. Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Atualmente, é Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou, recentemente, Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador , mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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