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Contos
03/04/2007 - 10h08
O corno pão-duro
Celamar Maione
 

Laurita era muito bonita. Daquelas loiras altas, bem boazudas. Casada com Genival há 10 anos. Amava sinceramente o marido e apesar das cantadas que recebia, sempre foi fiel. Genival só tinha um problema: era pão-duro! Só tinha duas calças compridas. E obrigava a mulher Laurita a economizar em tudo.

Machista, não deixava Laurita trabalhar fora. Ela havia se conformado com essa vida controlada. A mãe dela é que não gostava nada de ver o jeito pão-duro do genro:

- Minha filha, você tem que dar um rumo na sua vida. Arrumar um emprego, arranjar uma maneira de ganhar dinheiro, não é possível ficar convivendo com esse homem pão-duro.

Laurita, mulher apaixonada, dava de ombros e respondia à mãe:

- Faço por amor mãe... amo meu marido e eu o aceito assim. Do jeito que é.

A mãe acabava sem argumentos e desistia de incentivar a filha a sair do casamento com Genival, que na rua era conhecido por todo mundo pelo seu jeito pão-duro de ser. Até que um dia a máquina de lavar escangalhou. Não teve conserto. Assim que Genival chegou do trabalho, Laurita foi falar com o marido, fez aquela voz meiguinha com direito a biquinho e falou com boca mole:

- Genival... a máquina de lavar não tem jeito. Ou compra outra, ou você vai ficar com as roupas sujas. Lavar roupa na mão, nunquinha.

O marido que assistia ao jogo de futebol, nem desgrudou os olhos da TV e foi logo respondendo:

- Se vira Laurita. Não tenho dinheiro para comprar máquina nova.

A mulher esperneou, bateu o pé mas Genival foi duro:

- Nada de máquina de lavar. Se você não quiser lavar as roupas, que se dane, uso roupas sujas.

Não adiantava. Laurita sabia que quando o marido batia o pé desse jeito, não havia quem o fizesse mudar de idéia. O jeito foi lavar a roupa na mão. Um mês depois, com as mãos estouradas e as unhas todas quebradas, foi reclamar com a mãe. A mãe aproveitou para colocar lenha na fogueira:

- Ué, você não ama o Genival? Agora agüenta, lava as roupinhas dele na mão.

Laurita voltava para casa triste, cabisbaixa... Pela primeira vez seu casamento corria o risco de acabar. E veja só: por causa de uma máquina de lavar. Vinha ela, distraída com seus pensamentos, quando encontrou Seu Antonio, dono do armazém da rua do lado, que era vidrado nela. Quando ela passou, como sempre fazia, jogou uma piadinha:

- Já vai gostosa? Vem cá... vem... que eu te dou o que você quiser! Só pra ter uma noite de amor com você.

De repente, Laurita estancou. Ficou parada pensando. Seu Antonio ficou assustado e pensou:

“Pronto... é agora que ela se encheu das minhas cantadas e vai me dar um tapa na cara”.

Mas não foi o que aconteceu. Ela voltou e decidida perguntou:

- Se eu for para cama com você, você me dá uma máquina de lavar?

O homem nem acreditou. Esfregou as mãos e empolgado respondeu:

- Mas é claro... o que você quiser. Até uma máquina de lavar.

- Então primeiro a máquina, depois eu durmo com você.

Dois dias depois chegava a máquina de lavar na casa de Laurita: novinha em folha. A mulher ficou boba. E cumpriu o trato. Dormiu com o homem do armazém. Depois da tarde de sexo arroz com feijão, Seu Antonio empolgado fez a proposta:

- Então? Gostou? Te dou o que você quiser para você ficar comigo.

Laurita se vestindo apressada respondeu:

- Não posso, amo meu marido. Só queria mesmo a máquina de lavar.

À noite, quando o marido chegou em casa e viu a máquina de lavar, Laurita tomou coragem e contou para ele que havia dormido com o homem do armazém só para ter a máquina de lavar. A esperança de Laurita é que ele agora tomasse vergonha na cara e parasse com essa mania de ser pão-duro.

Mas a reação de Genival foi a mais anormal do mundo. Ou quase. Ele olhou a casa toda, deu um sorrisinho de satisfação e respondeu:

- Laurita... estamos precisando de uma televisão nova. Dessas de 29 polegadas.

Os dois se abraçaram, riram juntos e foram felizes para sempre. Finalmente Laurita achou uma solução para o pão-durismo do marido.


Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical, Rádio Globo e Rádio Tupi. Faz freelance na época do Carnaval na Rádio Tupi, na cobertura de barracão de escolas de samba e na Marquês de Sapucaí. Leciona Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador , mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.

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