Djanira e Everaldo estavam casados há 30 anos. Viviam um casamento arrastado e monótono. Eram como dois irmãos. Os filhos não moravam mais com eles. O mais velho foi trabalhar em outro estado e o mais novo era casado. Os dias corriam sem graça e sem novidades para Djanira e Everaldo. A única distração de Everaldo era o trabalho. Mesmo aposentado, tinha prazer em ter uma ocupação fora de casa. Quando saía para trabalhar, respirava fundo. Durante algumas horas não precisaria olhar para a cara de enterro da esposa Djanira. Por sua vez, Djanira, dona de casa, passava o dia varrendo, cozinhando e lavando roupa. Sua única distração era falar mal dos vizinhos. Depois do serviço doméstico, se reunia com as vizinhas na porta de casa e tratava de falar mal da vida alheia: - Você viu como ela saiu para trabalhar hoje? A outra colocava mais veneno: - E não vi, mulher?! Deve ter arrumado um amante. Ela só usa roupa de griffe. Djanira continuava: - Também, ela é uma piranha mesmo! Nem cuidar dos filhos direito ela cuida. Você viu a filha mais nova, a Cassinha? Já está de barriga. Só podia dar nisso mesmo. Fofoca vai, fofoca vem. O marido chegava, ela se despedia da vizinhança, e ia preparar a janta de Everaldo. Depois do jantar, silêncio sepucral. O marido ficava com os olhos grudados na TV e nem respirava. Djanira ainda fazia uma horinha pela sala, folheando revista de fofoca e depois ia dormir. No meio da noite, quando acordava, tinha um desgosto grande. O marido roncando com aquele barrigão do lado dela, dava vontade de morrer. No dia seguinte era a mesma rotina. Na verdade, Djanira e Everaldo viviam o tédio das pessoas que esperam algo de novo para movimentar os dias. Até que num final de semana o marido veio com a novidade: - Djanira, vou comprar um computador. - Computador? Pra quê isso Everaldo? Você por acaso sabe mexer nessa parafernália? Isso é coisa para gente inteligente. - Qualquer um aprende mulher. É só entrar num cursinho de esquina. E tem mais: vou colocar aqui em casa a Internet e vamos navegar pelo mundo. A mulher fez cara de tédio. Na quinta-feira, Everaldo chegou com o computador. No final de semana chamou o técnico. Depois de tudo instalado, se conectou à Internet e passou a navegar. Os finais de semana de Everaldo eram sentados na cadeira em frente ao computador. Viajava virtualmente pelo Museu do Louvre, Japão, China, conhecia os costumes do povo islâmico. Aprendeu mais sobre os times de futebol. Djanira, vendo o interesse do marido, ficou com inveja. Cheia de curiosidade do mundo novo que se abriu para Everaldo, saiu-se com essa: - Já que você tem direito, eu também quero. Vou entrar num curso de computador. E entrou. Aprendeu a mexer na máquina e também passou a navegar pela Internet. Uma tarde, sozinha em casa, resolveu dar vazão à curiosidade. Entrou numa sala de bate-papo, ficou só observando as pessoas que conversavam. Resolveu fazer a mesma coisa. Arrumou um nick. Nas salas de bate-papo passou a se chamar CASADA COM TESÃO. Meio tímida, de início, entrou numa sala de sexo. Um mês depois, já estava íntima das salas de sexo. Teclava com agilidade. Arranjou um endereço eletrônico e arrumou também amantes virtuais. Na Internet ela era loira, alta, e tinha 28 anos de idade. Trocava correspondências quentíssimas. Ficou viciada. Nos finais de semana, ela e o marido disputavam, quase aos tapas, quem ia ficar no computador. Num sábado à tarde, enquanto o marido cochilava, Djanira se conectou à Internet para ver os e-mails na sua caixa postal. A esposa de Everaldo estava num romance quente com um tal AMANTE LATINO. Lia e relia o último e-mail do amante virtual, que sonhava pegá-la pelos cabelos, jogá-la na cama e passar chantilly por todo seu corpo. Depois lamberia Djanira dos pés à cabeça. Nisso a campainha toca. Djanira sai correndo e nem desliga o computador. Deixou a caixa postal aberta e foi ver quem era. Era a vizinha desesperada pedindo que Djanira a ajudasse a socorrer o filho que havia se machucado. Djanira sai. Cinco minutos depois, o marido acorda e vai até a sala. Viu o computador ligado. Passou a ler os e-mails de Djanira. Era tanta sacanagem que Everaldo ficou em estado de choque. Ao mesmo tempo ficou, também, excitado ao conhecer a desenvoltura virtual da mulher. Quando Djanira voltou e encontrou o marido lendo seus e- mails quase desmaiou de tanta vergonha. O marido, empolgado com as correspondências eróticas da mulher, voou na cintura de Djanira e começou a tascar-lhe beijos por todo o corpo. Rasgou a roupa da esposa, num acesso de fúria. Fizeram amor durante todo o sábado como dois animais. Desde esse flagrante virtual, o casal passou a transar em dias alternados. Eles sempre tinham uma fantasia nova. Calcinhas com cheirinho de morango, uva, pêssego. Até vibradores, de vários tamanhos e texturas. E tudo o que permite a imaginação do leitor. Na vida real Djanira se tornou a mulher mais feliz, mais amada e mais bem comida da vizinhança. Sua pele estava sedosa. Seu caminhar era lento e cheio de ginga. Rejuvenesceu uns 10 anos. No mundo virtual ela continuou a ser a CASADA COM TESÃO. Seduzia os homens carentes pelas salas de bate-papo da vida. As fantasias virtuais passou a realizar na vida real com o marido. Que, aliás, adorava ouvir suas aventuras cibernéticas. As histórias de Djanira davam nele um tesão alucinado. Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi e atualmente trabalha na Nova Brasil FM. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador , mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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