Heleneide se olhou mais uma vez no espelho, passou batom, apertou os lábios, ajeitou os brincos e foi ao encontro de Osório. Quando chegou no restaurante, pediu uma mesa ao garçom e não tirou os olhos da porta. Assim que avistou o namorado, abriu um sorriso. Osório se aproximou e beijou Heleneide no rosto. Estava muito agitado: - Não posso demorar. Estou no meio do expediente. Precisamos conversar e não pode passar de hoje. Heleneide apertou as mãos preocupada: - Você me assustou com sua urgência. O que houve? - Antes precisa me prometer que vai ficar calma. - Eu estava calma. Agora fiquei nervosa. Anda Osório, fala! Osório respirou fundo e saiu-se com essa: - Caso-me amanhã, Heleneide. Pronto, falei. - Como??!! - Caso-me amanhã! - Casar amanhã?! Não entendi. Que brincadeira de mau gosto é essa? Que eu saiba, você é meu namorado. Namoramos há sete meses... e... - Eu sei, eu sei, mas quando conheci você, já era noivo. Tentei terminar o noivado. Não consegui. Sabe como é, coisa de infância. Família envolvida. - Você me fez de palhaça durante todo esse tempo?! Heleneide aumentou o tom de voz. - Heleneide, controle-se. Estamos num restaurante no centro da cidade na hora do almoço. Não quero chamar a atenção. Eu tenho uma proposta para fazer. - Proposta?! Depois de me dizer que casa amanhã você tem uma proposta para me fazer?! - Vai me convidar para ser madrinha? - Podemos ser amantes. Volto da lua-de-mel e continuamos nossa relação. Heleneide não sabia se ria ou se chorava. De repente tudo girou. O restaurante perdeu o foco. “Pela manhã, tinha um namorado”, pensou. “Na hora do almoço, o namorado diz que vai se casar e propõe que sejam amantes”. Não entendeu nada. A boca amargava. Pegou a bolsa e se levantou: - Almoça sozinho. Preciso pensar. Osório comeu em silêncio. Pediu a conta e voltou para o trabalho. Enquanto isso, Heleneide vagava pelas ruas do centro. Colocou os óculos escuros para chorar melhor. Parava em frente às vitrines com o pensamento longe. Queria entender o que acontecera. Jamais desconfiou de nada. Osório foi perfeito. Era mesmo um profissional da infidelidade. No final da tarde ligou para o namorado: - Preciso falar com você. Desce aqui. - Cinco minutos e já desço. Encontraram-se. Heleneide tinha lágrimas nos olhos. Teve vontade de agarrar Osório e implorar para não se casar, mas pediu outra coisa: - Posso pedir uma última coisa? - Até duas. Caso, mas não sumo. Você será minha amante fiel. - Só se você realizar um pedido. Um único pedido. - Peça. - Quero um pedaço de bolo do seu casamento. - Pedaço de bolo? Como assim? - Vou ao casamento e você me entrega o bolo do lado de fora da Igreja, durante a festa. Simples. - Não. É perigoso. - Então nada feito. Não serei sua amante. Não me procure mais. - Tá. Eu topo. Á noite, Heleneide desabafou com Marinalda. A amiga achou absurda a história do bolo: - Tem certeza? - Absoluta. Pelo menos me vingo: como o bolo da noiva do Osário! Heleneide deu um sorriso satânico que assustou Marinalda. Marinalda percebeu uma certa estranheza no olhar da amiga. “A notícia do casamento mexeu com Heleneide”, pensou. No dia seguinte, Marinalda acompanhou Heleneide até a Igreja e receosa perguntou: - Se Osório não aparecer? Você vai aprontar alguma? - Não. O castigo dele está guardado. Quando acontecer você vai saber. Sou ou não sou a amante fiel? Marinalda sentiu medo de Heleneide. Um arrepio perpassou-lhe o corpo. Percebeu naquela instante que Heleneide não estava no juízo perfeito. Enquanto isso, durante a festa, Osório tentava arranjar um jeito de escapar para falar com Heleneide. Quando pegou o pedaço de bolo e saía para entregá-lo, foi puxado pela noiva: - Amor, aonde é que você vai com esse bolo? Osório disfarçou: - Vou dar para uma mendiga na porta da Igreja. Promessa. A noiva pegou o bolo, entregou para o garçom e beijou Osório: - Vem, deixa para outro dia. Minha família quer tirar a última foto. Osório olhou para a porta do salão da Igreja, preocupado. Tinha medo de escândalos. Lá fora Heleneide perdia a paciência. Marinalda tentava acalmá-la: - Não é melhor irmos embora? - Não. Ele prometeu. Se daqui a 15 minutos não aparecer, entro lá e armo um barraco. Osório só conseguiu se desvencilhar da noiva quando ela se distraiu com os familiares. Olhando para os lados e se esgueirando pelos cantos, foi ao encontro de Heleneide: - O bolo. Missão cumprida. - Agora me dá um beijo. - Não posso. - Dá um beijo. Se não beijar... - Tá bom. Tá bom. Os dois se beijaram e Osório, apressado, se despediu de Heleneide, prometendo procurá-la quando chegasse da lua-de-mel. Durante o caminho para casa, Marinalda perguntou: - Não vai comer o bolo? - Detesto bolo de maracujá. Vou jogar na lixeira! Novamente a risada satânica da amiga assustou Marinalda. Assim que Osório chegou de viagem, ligou para Heleneide: - Estou de volta. Não disse que ligava? - Quero me encontrar com você. Agora. Já! - Amanhã. - Hoje. Estou com saudades. Osório obedeceu. Heleneide vestiu a melhor roupa e passou o perfume preferido de Osório. Arrumou tudo como planejara. Antes de sair, fez uma ligação. Quando se viram, se abraçaram. Osório entregou um presente para Heleneide: - Viu? Pensei em você. Veja se gostou do brinco. - Lindo, amor! Adorei! Vou colocar já. - Não disse que você seria minha amante fiel? - E sou. Apenas sua. Osório não percebeu a ironia na voz. Tiveram uma tarde de amor inesquecível. Logo voltaram à realidade: - Heleneide, acabou-se o que era doce. Sou um homem casado. Tenho hora. Vamos? - Claro, amor. Mas antes tenho uma surpresa para você. Heleneide vendou Osório. - Vê lá o que você vai aprontar sua danadinha. - Você vai gostar. Surpreeesaa!! Heleneide tirou um facão da bolsa e cortou o pênis de Osório. Osório deu um grito alucinado e desmaiou. O sangue jorrava. Heleneide pegou o pênis do amante, foi até o banheiro, jogou no vaso e apertou a descarga. O telefone soou, estridente. Heleneide atendeu: - Pode deixar subir. Heleneide abriu a porta e sorriu para Samara, repórter de um jornal sensacionalista: - Entra, vou contar minha história para você. Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Atualmente, é Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou, recentemente, Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador , mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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