Rosemary tinha tara por calcinhas. Adorava comprar calcinhas. Tinha um armário cheio delas. De todas as cores, tipos, tecidos, textura, tamanho. Não havia usado nem a metade. Mas era compulsiva. Não podia estar no Centro da Cidade na hora do almoço que já puxava a colega pelo braço e dizia: - Ali... vamos ali, gostei daquela calcinha. No Shopping aos sábados e domingos ela fazia a festa. Saia comprando. As amigas tentavam tirar da cabeça de Rosemary esse desejo compulsivo por calcinhas. Recomendaram até psiquiatra. Mas nenhum deu jeito. Afinal, fora as calcinhas, Rosemary era uma mulher normal. Trabalhava, saía para ir ao cinema com as amigas, presenteava os sobrinhos, enfim, era uma boa pessoa. Fazer o quê então? Cada louco com a sua mania. Só que os parentes e amigos perceberam que a compulsão por calcinhas se agravou quando ela se apaixonou pelo novo colega de trabalho. Assim que Rosemary bateu os olhos disse: - Foi para ele que eu comprei tanta calcinha. Moreira é o homem da minha vida! As colegas de trabalho logo ficaram preocupadas: - Calma Rose... você nem conhece o cara direito, e sendo do trabalho, sabe como é, todo cuidado é pouco. Você nem sabe se ele é casado... se tem namorada... Rosemary investigou e descobriu tudo. Moreira era solteirinho, livre para voar. Passou a investir olhares, sorrisos, gracejos... Foi correspondida. Moreira foi se encantando com a meiguice de Rosemary. Passaram a almoçar juntos. Ficavam horas depois do expediente conversando abobrinhas. Rosemary estava completamente caidinha. Apaixonada. As amigas já colocavam fogo no sapecado: - Finalmente vai poder gastar seu estoque de calcinhas... Outra falava: - Que tipo de calcinha será que o Moreira prefere? Ficavam lá divagando com as calcinhas de Rosemary. Começaram a namorar. Um mês de namoro e nada de sexo. As amigas cobravam: - E aí, sai ou não sai essa transa? Rosemary sorria: - Calma meninas... ele já se insinuou. Mas sou moça direita. Sabe como é, para agarrar de jeito a gente tem que fazer um doce primeiro. Finalmente depois de dois meses de namoro o casal decidiu que teria a primeira transa. Estavam no telefone conversando, Rosemary com voz melosa perguntou: - Amor... que tipo de calcinha você prefere? O rapaz estranhou a pergunta: - Calcinha? Ué... não entendi... Rosemary repetiu: - Para a nossa primeira transa. Gosta de calcinha cavadinha? De renda? Preta? Branca? Cetim? Algodão... eu quero te agradar amor. Moreira deu uma sonora gargalhada: - O quê? Calcinha? Que calcinha que nada. Eu adoro quando a mulher coloca um vestido e na hora que ela tira está nua em pêlo por baixo. Se quer me agradar... Rosemary nem esperou Moreira acabar de falar. Desligou na cara do namorado. Ele ainda ligou novamente, mas ela gritou com o pessoal de casa: - Ninguém atende. É o Moreira! Não quis mais nem ouvir falar no nome do cara. No trabalho evitava qualquer contato. Pediu demissão. Moreira ficou sem entender nada. Um mês depois foi visitar a ex-namorada num hospital psiquiátrico. Rosemary estava cercada de calcinhas por todos os lados. Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Atualmente, é Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou, recentemente, Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador , mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
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