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Contos
04/11/2006 - 05h36
As rosas
Celamar Maione
 

Assim que Valdete apontou na esquina da rua, Olinda saiu da janela e foi para a porta da Vila. Quando a vizinha se aproximou e já ia entrar em casa, Olinda gritou:

- E aí, como foi?

- Psiuu... olha o escândalo mulher. Vem até aqui em casa, meu marido ainda não chegou. Vem que eu tenho novidades.

Olinda fechou o portão e foi ao encontro da vizinha completamente excitada. Sabia que Valdete devia realmente ter boas novas. A vizinha vinha de mais um encontro com o amante. As duas rindo muito, entraram na casa de Valdete, que foi logo dizendo:

- Senta aí no sofá para você não cair para trás. Vou te mostrar o anel de ouro que o Esteves me deu hoje.

Abriu a bolsa, tirou o anel da caixinha e sorrindo de orelha a orelha colocou na mão de Olinda:

- Baba mulher... não é uma preciosidade?

A outra arregalou os olhos e cheia de inveja disse:

- Nossa... mais que lindo... e esse anel é verdadeiro?

- Mas claro que é. Tudo o que o Esteves me dá é verdadeiro. Você não acha que eu mando avaliar?

- E teu marido? Ele não desconfia?
- Ora ora... quando eu saio com o Januário, eu digo que é bijuteria. E aquela besta lá sabe avaliar alguma coisa?

Valdete era casada há 15 anos com Januário, um funcionário público que levava vida humilde. Há um ano Valdete tinha conhecido Esteves, o amante. Ele era 25 anos mais velho. Na verdade, um velho babão. Mas dava vantagens à amante. Cada encontro era uma jóia. Valdete tinha planos de guardar as jóias e assim, quando já tivesse uma boa quantidade, planejava dar um chute no marido e no amante. Valdete iria vender as jóias para conseguir a própria independência. A vizinha Olinda, sua confidente, sabia de tudo e invejava a esperteza de Valdete. Tinha também vontade de arrumar um amante com dinheiro, para mais tarde fazer a mesma coisa: dar um chute no marido, a quem ela chamava de porco dorminhoco.

- Valdete... eu invejo você... quero arrumar um amante rico também. Um velho que me dê mordomia.

- Isso é fácil. É só você se arrumar toda, sair de casa... e ir à luta.

Olinda foi à luta. Acabou conhecendo numa tarde primaveril, num café no Centro da Cidade, um senhor muito distinto chamado Clodoaldo. Trocaram telefones. Ele tinha jeito de homem com dinheiro. Excitada foi direto na casa de Valdete contar a novidade:

- Mulher... eu conheci o homem que vai me tirar do sufoco. Um senhor chamado Clodoaldo, muito distinto. Trocamos telefone. Vamos ver se ele vai me ligar mesmo.

- Isso... agora é só colocar o plano em execução. Não dá mole não. Velho babão adora ser explorado por mulher mais nova.

Dois dias depois Clodoaldo ligou para Olinda. Os dois ficaram umas duas horas conversando pelo telefone. Olinda aproveitou para espetar o suposto amante:

- Sabe... a minha vizinha tem um amante... ele é bem mais velho que ela... o homem é um mão aberta... dá jóias de presentes... Eles já estão juntos faz tempo.

Clodoaldo apenas murmurava:

- Hummmhummmm.

E assim os dias corriam. Ela preparando o espírito de Clodoaldo para o primeiro encontro. A todo momento falava da vizinha Valdete e do amante dela. Resolveram marcar o encontro. Olinda se enfeitou toda. Criou a maior expectativa. Antes passou na casa de Valdete:

- É hoje nosso primeiro encontro. Já preparei o espírito do homem. Falei de você toda hora. Vamos ver qual a jóia que ele vai me dar.

A vizinha desejou boa sorte e as duas se despediram.

Os futuros amantes resolveram se encontrar no Centro da Cidade. No mesmo café em que se conheceram. Quando Olinda chegou no bar, Clodoaldo já estava esperando por ela com um sorriso. Na mão uma dúzia de rosas vermelhas, cuidadosamente embrulhadas num papel celofane.

Olinda beijou Clodoaldo e ele lhe entregou as rosas:

- São pra você. Para marcar nosso primeiro encontro. Toma: rosas para uma rosa!
Olinda pegou as rosas... ainda tentou procurar, para ver se tinha alguma caixinha de jóia por entre as rosas. Nada. Ela então perguntou:

- Só isso? E o meu presente?

- Minha doçura... não existe nada mais singelo do que dar rosas para uma mulher.

Olinda se decepcionou:

- Mas rosas? Só rosas? E as jóias?

- Jóias? Mas jóias são muito caras e não provam o amor que um homem sente por uma mulher... as rosas são mais românticas.

Olinda se enfureceu. Pegou as rosas jogou no chão e foi amassando uma por uma com a sandália salto alto, que ela havia comprado especialmente para aquela ocasião:

- Sabe o que você faz com essas rosas? Enfia garganta adentro. Rosa por rosa, eu prefiro as que o meu marido compra aos sábados na feira, para enfeitar a casa.

Dito isso, pegou a bolsa e saiu, deixando Clodoaldo com a maior cara de trouxa.


Nota do Editor: Celamar Maione é radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Atualmente, é Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou, recentemente, Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador, mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.

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