Outro dia, na saga de ser passageira, tomei um ônibus cujo motorista é do tipo que dirige com raiva, que enfia o pé no acelerador, no breque, entra com tudo na curva e que trata grosseiramente os passageiros, principalmente os mais velhos. Na verdade são tantos deste tipo que fico imaginando se não recebem cursos de capacitação para serem mal-educados. Como todo cuidado é pouco, segurei-me bem e sentei logo. Fiquei observando o jeito do motorista e não pude deixar de pensar que é evidente que aquela pessoa está insatisfeita com sua vida, que não gosta do que faz. Ele, como milhares de outros, é um produto da nossa organização social, política e econômica. As dificuldades no decorrer da vida nos levam a abandonar os nossos sonhos de realização através do trabalho. Somos criados com a mentalidade de que temos que trabalhar em qualquer coisa para garantir nosso sustento e nossa aposentadoria. - O que você vai ser quando crescer? - bombardeamos as crianças com essa pergunta e depois não lhes damos a perspectiva de realização. - Você precisa estudar para melhorar de vida - é outra ilusão comum que se coloca na cabeça das crianças, uma meia-verdade pois o sistema escolar não está estruturado para isso. Se estivesse não teríamos quase setenta por cento de analfabetos funcionais. E por aí vai. São balconistas, médicos, professores, motoristas... que não gostam do que fazem, que fazem malfeito seu trabalho e que pelo qual estão ganhando. Pouco? Nessas circunstâncias é muito! Prejudicam aos outros, sim, mas principalmente, a si mesmos pois a irritação, a falta de paciência, o viver contrariado e de mau humor são as fontes de inúmeras doenças. - Se todo mundo só fizesse o que gosta, ninguém ia querer ser lixeiro! - poderiam argumentar... É verdade. Por que não por os presos para trabalhar? Por que não colocar o jovem para estagiar nesse trabalho? Com certeza eles dariam mais valor aos estudos e buscariam o caminho da honestidade. Em suma é preciso repensar nossos valores e o que nossa sociedade está fazendo com seus cidadãos e depois mudar!
Nota do Editor: Mariza Taguada, professora de profissão e artista de coração, é paulistana e moradora de Ubatuba (SP) desde os velhos tempos.
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