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São Pedro, como sempre na porta do céu, balançou seu molho de chaves e falou sorrindo para um anjo que passava por ali: - Eh, eh, eh, mês de junho, é meu aniversário, 29 de junho. Dizem que sou santo festeiro, sou sim! Gosto de comemorar meu aniversário... O anjo dá um adeusinho e segue seu caminho, São Pedro continua com seus pensamentos como se falasse em voz alta: - É bem verdade que antes meu aniversário era muito mais comemorado. Um movimento de fé, promessa cumprida, alegria, dança, música, causos e muita folia. A fartura mostrava oferecimentos feitos com crença genuína e de coração. Não havia subterfúgio, as pessoas eram espontâneas e verdadeiras. Tudo isso se refletia no clima festivo do dia do padroeiro, no caso eu, São Pedro Pescador, mas hoje.... Deu um pequeno suspiro e continuou: - Ah! A procissão é a parte que mais gosto! A imagem balançando no mar, o cheiro de peixe e de maresia... Enquanto isso, lá nas antigas terras de Coaquira, que tem como santo padroeiro e protetor o nosso São Pedro, os preparativos para a festa decorriam. Hoje em dia não existe mais “festa”, sabe? aquela tradicional que temos no nosso imaginário? Hoje é evento! Um grande evento envolve muitos interesses políticos, econômicos e sociais que nem sempre concordam. E nesse caso havia uma discórdia infiltrando-se no sentido original da festa que é de agradecimento ao padroeiro, pelas graças alcançadas, pela proteção no mar e pelos peixes pescados! Um disse-me-disse foi aos poucos espalhando a notícia pela cidade: não haverá procissão marítima este ano! No entanto havia um lugar das terras de Coaquira que estava alheio a tudo isso. Uma antiga vila de pescadores chamada Picinguaba. Ali uma sincera homenagem a São Pedro estava sendo preparada há dois anos ou mais para acontecer neste dia. Um artista nascido ali, chamado Bado Todão, ofertou nesse dia a sua arte: uma ópera popular caiçara chamada “As lavadeiras do rio e seus amores do mar”. Ás dez da manhã desta terça-feira, 29 de junho, em frente ao mar, na vila da Picinguaba, o grupo Ubacunhã encantou a platéia com graça, alegria e competência. Depois dos calorosos e merecidos aplausos, eles doaram à Capela, uma imagem de São Pedro que terá para sempre uma linda vista do mar. Lá do céu, São Pedro suspirou aliviado: - Graças a Deus ainda tem gente que cultiva a essência de ser cristão! Balançou de novo seu molho de chaves e aprontou-se para receber novos moradores.
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