Participar de uma tradição viva como a Folia de Reis tem sido um momento de sublime alegria na minha vida. Todo ano a Companhia de Reis O Guaruçá, seguindo as tradições, reveste-se, com toda reverência, do mais puro espírito cristão para reviver a chegada de Cristo na Terra. Um momento de confraternização entre amigos e família onde acontecem muitas histórias como essa que vou contar. Dois de dezembro, na casa do Luiz, aniversário regado há muitas lembranças da infância, muitas risadas e um causo para a posteridade. Nossa folia tem a bandeira, o palhaço, as pastorinhas de lenço na cabeça e os tocadores. Como é o costume, a folia chegou cantando na porta da casa. Os donos da casa nos receberam e nos convidaram para entrar. Mal entramos na casa e bateram na porta. O Luiz atendeu e ouvimos uma voz dizendo: - “Soy” chileno e a mi me “gusta” a cultura de “usteds”, posso ver? Luiz abriu a porta e a pessoa entrou. Dois segundos depois, batidas na porta: era o amigo “brasileño” que chegava. Os dois já estavam visivelmente alcoolizados e aplaudiam tudo com muito entusiasmo. No final da cantoria o chileno veio em minha direção com a mão estendida e com a palma para cima. Foi aproximando-se e falando em portunhol: - Porque mi vida está mucho complicada... e coisas assim. Eu, sem entender e vendo aquela mão estendida, dei minha mão e cumprimentei-o: - Boa noite, muito prazer, disse-lhe. - No, no... “quiero” que você leia a minha mão, retrucou ele. Foi uma risada só pois percebemos que ele pensou que eu fosse uma cigana, provavelmente por causa do lenço da cabeça. Explicamos o que era uma folia de reis e logo eles foram embora. Lembrei de papai que gostava de tomar umas e outras e que, se ouvisse essa história, com certeza diria: - Ah!!! Eram os irmãozinhos!
Nota do Editor: Mariza Taguada, professora de profissão e artista de coração, é paulistana e moradora de Ubatuba (SP) desde os velhos tempos.
|