O recente seminário sobre o aquecimento global perdeu uma ótima oportunidade de discussão de um tema verdadeiramente relevante para a região que é a questão do transbordo do lixo enquanto houve duas apresentações sobre a questão das ciclovias, que um dos participantes de uma outra mesa colocou como uma questão relevante para a saúde e não para o foco do seminário que era o aquecimento global. Embora solicitado, não se abriu espaço para uma apresentação de uma proposta inovadora da questão do tratamento do lixo. Como se sabe, com o fechamento dos aterros sanitários e lixões, as quatro cidades (Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião e Ilhabela) estão exportando o lixo para fora a um custo muito alto, tanto econômico quanto ambiental. Além de sugar recursos que poderiam ser empregados nesses municípios, o gasto que se faz com combustíveis é muito grande, e a sua queima, provavelmente contribui para o aquecimento global. Como os lixões realmente trazem muitos problemas e risco de contaminação do lençol freático, há uma corrida para se encontrar uma solução e há várias propostas, uma das quais é o PROJETO LIXO ZERO E ARQUITETURA SUSTENTÁVEL. Agora fomos surpreendidos por notícias veiculadas no Imprensa Livre de que São Sebastião pretende implantar uma usina térmica regional. Não temos muitos dados, mas parece que, para ela ser economicamente viável é necessário que processe o lixo das quatro cidades, problema que não acontece com o Lixo Zero, porque o tamanho das usinas pode se adequar ao tamanho da população. Também não requerem espaços muito grandes para sua instalação. O prefeito de São Sebastião afirma “já ter discutido o assunto com os prefeitos de Ilhabela, Caraguatatuba e Ubatuba, os quais igualmente se manifestaram favoráveis à solução.” Nesse caso, a maior beneficiada seria São Sebastião, e a mais prejudicada seria Ubatuba porque é a mais distante da usina. Mas o prefeito Eduardo César afirmou ao Imprensa Livre que “o projeto traria lucratividade para a região, já que todas as cidades gastam com o processo de transbordo, que centraliza os resíduos sólidos em um ponto da cidade para depois transportarem para Tremembé. Fazer parte deste consórcio traria, inclusive, economia para os cofres públicos, uma vez que arcamos com um custo altíssimo para não deixarmos o lixo em nossa cidade”. Para Eugênio de Campos Junior, Secretário de Meio Ambiente de Caraguatatuba existe uma contradição: o projeto caminha na contramão da política estadual em relação ao tratamento de lixo pois o governo do Estado trabalha e incentiva a redução de produção de resíduos sólidos, o que é o oposto do que está sendo apresentado, já que para a usina se tornar economicamente viável terá que produzir mais lixo, para se ter sempre mais energia”. Para Ilhabela e Caraguatatuba, ainda não há definição sobre o projeto porque as informações foram insuficientes para uma avaliação de sua viabilidade econômica e ambiental. O importante é que se vai firmando e fortalecendo a discussão de problemas comuns, comprometendo cada vez mais o governo do Estado para soluções mais adequadas e mais ágeis para a melhoria da qualidade de vida do Litoral Norte Paulista.
Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor da rede pública de ensino desde 1971. Assessor e militante de Educação Popular.
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