Considerado um dos principais nomes da atualidade dentro das artes visuais no Brasil, Xadalu Tupã Jekupé realiza a mostra gratuita Nhe’E Ambá no Sesc Santa Rita
Sesc Paraty | |
Até o dia cinco de março de 2023 o Polo Sociocultural Sesc Paraty realiza na unidade Sesc Santa Rita, localizada na rua Dona Geralda, 320, Centro Histórico, a exposição Nhe’E Ambá de Xadalu Tupã Jekupé, com trabalhos inéditos e também com obras do acervo de outros museus e instituições culturais do país. A mostra, segundo o artista, traz um significado que perpassa a cosmologia consultada pelos caciques e sábios - Nheé significa “espírito” e Ambá “morada de Deus”, lugar que abriga todos os espíritos das cidades celestiais. Através de pinturas, gravuras, vídeo e instalação, Xadalu Tupã possui intencionalidade muito bem demarcada aqui: tomar assento no coração do grande público que vai interagir com as narrativas, por meio de histórias contadas por ele mesmo, que é um guardião de Tupã e da sua cultura - cujo trabalho consiste em demarcar o território indígena através de iconografia étnica e artística de adesivos e cartazes de um indígena estilizado. Este movimento criou um novo conceito de arte urbana indígena pós-grafite, ressignificando a arte pela causa indígena na cidade de Porto Alegre. Por isso, o artista com raízes aquáticas no Rio Ibirapuitã, em Alegrete (Rio Grande do Sul), revisitou o seu passado e, como um guarani, passou a criar dentro de si. Do poder ancestral narrativo de sua trisavó Aurora, a bisavó Ernilza e avó Dalva Luz, a luz se fez nos olhos de Xadalu, assim enxergando o apagamento que sua cultura e a de outros povos da região Sul do Brasil, como: os Charruas, os Guaranis Mbyá, os Jaros, Mbones e Minuanos, que vieram sofrendo ao longo do tempo e do espaço no mundo rural e urbano. Exposição Nhe’E Ambá, por Xadalu Tupã Jekupé Quando: até 5/3/23, de terça a sexta e feriados, das 10 às 19h; sábados e domingos, das 14h às 19h. A unidade não terá atendimento ao público nos dias 24, 25 e 31 de dezembro de 2022 e no dia 1º de janeiro de 2023. Onde: Sesc Santa Rita, rua Dona Geralda, 320, Centro Histórico de Paraty. Atividade gratuita Sesc Paraty e Xadalu Em março de 2020, dentro do projeto Ateliê Aberto, desenvolvido pelo Sesc Paraty, propomos uma troca de experiências entre o artista Xadalu e os habitantes da aldeia Guarani Araponga, em Paraty. Com isso, Xadalu desenvolveu com os jovens indígenas uma oficina de serigrafia. Ao fim da experiência, o artistas também participou da cerimônia de batismo Nhemongarai, quando recebeu o nome Xadalu Tupã Jekupé. O milho, utilizado na cerimônia, é a base da alimentação de muitos povos. E, para alguns povos originários, este grão tem significado simbólico, fazendo a ligação entre mundo espiritual e físico. Na Nhemongarai, se sabe de que cidade celestial as almas da pessoa vêm e qual sua missão na terra. Ali, o artista recebeu o complemento de seu nome, e compreendeu os significados dessas palavras. Na rodoviária da cidade, lugar de idas, vindas e passagens, o artista ocupou o espaço com milhos confeccionados em algodão. Sobre Xadalu Tupã Jekupé Ao utilizar elementos da serigrafia, pintura, fotografia e objetos para abordar em forma de arte urbana, as obras de Xadalu mostram o tensionamento entre a cultura indígena e ocidental nas cidades. Sua obra, resultado das vivências nas aldeias e das conversas com sábios em volta da fogueira, tornou-se um dos recursos mais potentes das artes visuais contra o apagamento da cultura indígena no Rio Grande do Sul (RS). O diálogo e a integração com a comunidade Guarani Mbyá permitiram ao artista o resgate e reconhecimento da própria ancestralidade. Nascido em Alegrete (RS), Xadalu tem origem ligada aos indígenas que historicamente habitavam as margens do Rio Ibirapuitã. As águas que banharam sua infância carregam a história de Guaranis Mbyá, Charruas, Minuanos, Jaros e Mbones - assim como dos bisavôs e trisavós do artista. De etnia desconhecida, eles eram parte de um fragmento indígena que resistia em casas de barro e capim à beira do Ibirapuitã, dedicando-se à pesca e vivendo ao redor do fogo mesmo depois do extermínio das aldeias da região. A revelação de seu nome espiritual guarani, Tupã Jukupé, em batismo Nhemongarai (ritual de nomeação), pelo centenário cacique Karai Tataendy Ocã, é parte da reconexão de Xadalu com sua ancestralidade indígena. Como escreveu o cacique geral Mburuvixá Tenondé Cirilo Karai: "Xadalu Tupã Jekupé é guarani, pois ele sente e vive no mundo guarani e tem seu espírito guarani. Não é por acaso que isso aconteceu, ele é um ser especial, foi nosso Deus Nhanderu que mandou ele, pois existem guerreiros enviados pelos deuses para salvar o seu povo, e o nosso Deus mandou Xadalu para salvar a história do povo Guarani Mbya através da arte". Nas palavras de Paulo Herkenhoff, "Xadalu não fica à espera por mudanças na sociedade, mas busca agenciar sua potência para agir na escala individual". O renomado curador também afirma que "a arte de Xadalu não vai mudar o mundo, mas pode alterar nosso olhar sobre as coisas". Em 2020, sua obra "Atenção Área Indígena" foi transformada em bandeira e hasteada na cúpula do Museu de Arte do Rio. Meses depois, venceu o Prêmio Aliança Francesa com a obra "Invasão Colonial: Meu Corpo Nosso Território", que o levará a uma residência artística na França em 2021.
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