Acabei de ver este filme com um grande nó na garganta, como há muito tempo não sentia. Baseado em fatos reais, retrata a vida de dois irmãos encaminhados a um abrigo de menores, devido a prática de pequenos delitos. Não há como não relacioná-lo a “Minha Vida de Cachorro”, filme de 1985. Ambos tratam da relação sonho/realidade, de uma mãe doente que vem a falecer, da fixação de uma criança à corrida espacial, das consequências da orfandade e da maneira como os adultos tratam essas crianças. Vi “Minha Vida de Cachorro” muitas vezes, sendo que a primeira foi em um curso que fiz na ECA-USP (Escola de Comunicação e Artes) sobre instituições, cultura e a criança. O que o filme apresentava era uma situação muito rosa, idílica, dos cuidados da sociedade sueca para a com a criança órfã. O propósito da sessão era refletir sobre a situação na nossa realidade brasileira. As duas realidades pareciam muito distantes. “Quando o Dia Chegar” foi apresentado na 40ª Mostra de Cinema de São Paulo e os fatos apresentados ocorreram na década de 60 no Abrigo Godhavn, na Dinamarca, caracterizados com requintes de crueldade. Serve para nos mostrar que nem sempre a idéia que temos a respeito dos países nórdicos, sempre apresentados como sociedades altamente civilizadas, corresponde a verdade. Também não quer dizer que isso deve nos deixar mais tranquilos e conformados com a nossa realidade. As situações apresentadas no filme vem reforçar mais ainda a necessidade e a utilidade do Estatuto da Criança e do Adolescente como instrumento de proteção contra o poder abusivo dos adultos sobre aqueles que não tem como se defender. A criação desse tipo de lei trouxe avanços consideráveis mas ainda longe de uma situação satisfatória. Vale a pena ver e rever os dois filmes para pensarmos numa melhor interação entre adultos e crianças e na melhor forma de resolver os conflitos que surgem na socialização de seres humanos em formação.
Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor da rede pública de ensino desde 1971. Assessor e militante de Educação Popular.
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