- É verdade. Por que mentiria para você? - Não sei. Para me impressionar, talvez. - Não preciso disso. Basta eu dizer meu salário. Ela não riu. Ele ficou envergonhado. - Desculpe-me! Eu não quis ofender. Foi uma piada. - Sei que foi uma piada. Mas não entendi. Ele coçou a cabeça. E o queixo. E a testa. Assoviou e cantarolou. Tudo para não se questionar o porquê da insistência em conquistar aquela garota. Bonita e de belo corpo. Sim. Mas nada de interessante quando abria a boca. Uma balança em desequilíbrio. Contudo, ganhava a beleza. A música ao fundo convidava casais ao salão. Ele ficou receoso. “Será que ela dança em par? Será que curte pagode? Que faço aqui?”. - Quer dançar? - Não. Eu sei cantar. – enfática. Ele ficou em silêncio, raciocinando. - Quem não sabe cantar, dança! - Aaaah! – ele quis se matar. A música corria sozinha. Ele desejava uma dança. Ao menos uma. Nada mais. Dois passos, aqui-ali-aqui, gira-um-dois-gira-três-quatro... amava dança de salão. O refrigerante com gelo e limão que pedira já estava quente. A conversa estava desanimada. Uma mulher bonita, sem cérebro, é incompleta. Desejava sair, sem saber como. - Sim... Você é programador. - Isso. - E qual programa você apresenta? - Sou programador PHP. - Qual canal??? - Entende de tecnologia de informação? - Li algo sobre televisão digital no Brasil, mas não estou inteirada. - Não é isso. Eu faço sites, sistemas, desenvolvo isso numa linguagem PHP. - Ah! Quando era criança sabia isso. - Mesmo? – interessou-se. - Espera... Vopa cêpê épi umpo rapu pazpa inpe tepi respo sanpu tepa. - Que é isso? – confuso. - Bom, não lembro se era bem assim. A língua do P, menino! Ele coçou o queixo, a testa, as bochechas. Apertou as mãos, inclinou a cabeça e fechou os olhos, como se rezasse. Contou, em silêncio, até 20. Respirou. Ouvia a música que tocava. Desejou expulsar o DJ dali. Abriu os olhos. Observou a menina. Um sorriso bonito. Desejou esganá-la. - Você usa internet, suponho. Acessa o Orkut, não é mesmo? - Sim. Amo! - Então, eu faço isso. - Orkut? - Site. - Mas Orkut não é uma rede de relacionamentos? A noite parecia conspirar contra ele. “Por que estava ali?”. Entrara naquele local para comer algo. Tudo acontece de uma forma inesperada, às vezes. E incompreensível. - Sou web designer. - Sou Carla Magnólia, prazer! Pensei que não me diria seu nome... Ele levantou-se. Estendeu a mão e deu um romântico beijo em sua face. Agradeceu pela noite maravilhosa e interessante. Inventou uma desculpa, para que ela não se sentisse constrangida, e se encaminhou à porta. Saiu abismado. E não olhou para trás.
Nota do Editor: Mateus dos Santos Modesto é jornalista. Veja também em www.mateusmodesto.com.br.
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