André e Flávia não se continham de alegria. Cinco anos de namoro. Primeiro mês de casados. A intimidade à noite crescia a cada dia. Mantiveram-se puros até o matrimônio. Riam e conversavam antes de dormir. Era tudo novo. E agradável. Apaixonante. Acordou no meio da noite. A esposa não conseguia dormir. A enorme barriga era incômoda. De lado, às vezes, não resolvia. As noites eram mais longas. Flávia mal pregava os olhos. Lia e bordava nas madrugadas. André fazia-lhe companhia. Mas raramente. Irritou-se nos primeiros dias, mas depois se acostumou. Era tudo muito novo. Acordar nas madrugadas com o bebê era uma fase. André custava a entender isso. Flávia fazia a linha mais moderada. Sempre quis ter filhos. E Marcos seria o primeiro de uma linda e numerosa família. O marido fazia cara feia. Sempre dizia: “Nenhum mais!”. Conversa fiada. O quarto pesteava-se de brinquedos. Patos de borracha, carrinhos, trens, bonecos. Debaixo da cama havia centenas deles. Em péssimo estado de conservação. Marcos e Lucas não paravam quietos. Isso lhes custava uns castigos. Mas boas diversões. - Criança saudável vive pulando e correndo mesmo, meu amor. - Mas eles precisam ser obedientes. - E são! Eu não os defendo sempre, você sabe disso. André sabia muito bem do que a mulher escondia. Mas ele gostava de bancar o durão. Afinal, os meninos precisavam ver na mãe a docilidade e o refúgio, enquanto no pai a autoridade e o zelo. Os meninos ainda nem haviam tomado banho quando o pai os chamava na cozinha. Eles nem bem tomaram o café, o pai já estava com o carro fora da garagem, gritando-os. Acordar para a escola era um dos maiores desafios de Marcos e Lucas. Perdiam quase sempre. André buscava os filhos em casa e não os achava. O celular estava sempre ocupado. Tinham horário de chegar. Sem no minuto final. Mantinham boa relação em casa, mas os amigos surgiam de todos os lados. E novas diversões. Os estudos também ocupavam boa parte do tempo. Flávia preocupava-se com o marido. Ele parecia não se dar conta da evolução dos meninos. A faculdade tirou Marcos de casa. Depois Lucas. Os meninos cresciam e tornavam-se independentes. André não gostava disso. Queria-os sempre por perto. Mas entendia que assim tinha de ser. Viver na aba não traria amadurecimento. André e Flávia não se continham de alegria. Trinta anos de casamento. A intimidade à noite crescia a cada dia. Mantiveram-se unidos durante todo o matrimônio. Riam e conversavam antes de dormir. Continuava novo. Agradável. Apaixonante.
Nota do Editor: Mateus dos Santos Modesto é jornalista. Veja também em www.mateusmodesto.com.br.
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