Para alguns é precipitação. Para outros, rapidez de pensamento. A Palavra diz que é estupidez. Aquele que responde antes de ouvir pode ser envergonhado ou tornar-se um vencedor – neste caso, lembremos de gincanas televisivas. Mas se faz isso não apenas com palavras, com ações também. Depende muito das circunstâncias. Dona Maria, faxineira e mãe de seis filhos, é daquelas mães que educam o filho à base da fivela. Não que espanque ou torture suas crianças, mas com ela não tem meia conversa. Dizem que é extremamente grosseira e louca, está fora dos padrões intelectuais de educação impostos na atualidade. Sua ordem só se escuta uma única vez. O melhor é obedecê-la. E os meninos sabem bem disso. Se está errada ou não, basta analisar o número de adolescentes “perdidos” em seu bairro. Rodolfo, o mais velho, de 12 anos, conhece o poder da mão de sua mãe. Sua voz, quando brada, estremece-lhe por completo. Não ousa desafiá-la. Respeita-a e a ama. É o filho querido, mas isso não significa que tenha alguma regalia quando errado. O que é comum, principalmente na escola. Ou melhor, fora do comum. Bela manhã de quarta-feira. A escola, toda ornamentada, preparava-se para uma apresentação dos estudantes, em comemoração ao Dia do Professor. Rodolfo era o organizador de sua turma. Suou durante todo o mês de setembro, buscando uma qualidade tanto na peça de teatro quanto no figurino dos colegas. O esforço resultou em uma imensa salva de palmas e gritos de júbilo. E rendeu-lhe um comunicado para seus pais, convidando-os para visitar a escola. Era tudo o que ele queria: seria sua consagração. Todo contente, subia a última das três ladeiras do caminho para casa. Na semana foi repreendido por brigar com um rapaz. E intimidado pela mãe para que não acontecesse novamente. No mês anterior, uma confusão envolvendo seu nome deu-lhe como recompensa um castigo de cinco dias, além das temidas chineladas. Hoje, redimido, esperava por longos abraços e uma sobremesa individual: chocolates. Mas, para sua infelicidade, sua mãe não estava de bom humor. Ainda pela manhã, seu segundo filho, Rogério, discutira com a professora e tomou uma pequena suspensão de aulas. Dona Maria teve de ir até a escola ouvir a direção e levar o menino para casa, para aplicar-lhe uma pisa – uma surra. E o mais novo, Romildo, quebrara um pequeno adorno em casa – um vaso de flores de grande valor sentimental. Desse modo, sua paciência esgotara-se. Rodolfo foi entrando sem cerimônia. Assoviando, dirigiu-se à cozinha. Encontrou sua mãe sentada na cadeira, passando um sermão para os demais filhos. Todo orgulhoso, ele cortou a conversa da mãe – um erro fatal – e emendou: - A diretora quer ver a senhora amanhã. – e abriu um sorriso. - Para quê? Antes que ele pudesse responder, sua mãe levantou-se com um dos tamancos na mão e tratou de acertá-lo ali mesmo. O pequeno garoto não tentou defender-se: apenas correu, largando o convite no chão. Antes de sumir pela casa, não escapou da pontaria da mãe: no meio das costas. No papel não continha o assunto. Passado alguns minutos, Rodolfo voltou, explicando, ao longe, do que se tratava. Desajeitada, Dona Maria criticou-o: - E por que não me falou logo? Ele apenas abaixou a cabeça. Não ousou respondê-la.
Nota do Editor: Mateus dos Santos Modesto é jornalista. Veja também em www.mateusmodesto.com.br.
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