Não havia ninguém acima dela naquele dia. Estava levemente sensual. Totalmente charmosa. Feita para ser admirada. Não se sabia o que a motivou naquela produção. Todos reconheciam sua majestade. Do início ao fim da rua, os homens ficavam boquiabertos. As mulheres, mordendo-se de ciúmes. Algumas até elogiavam, mas em pensamento. Carros andavam mais devagar, o sol perdera sua extrema temperatura, as nuvens rendiam-se à sua beleza. As árvores balançavam em harmonia com o vento, os pássaros cantavam mais alegres, as borboletas improvisavam um balé no ar. Tudo estava perfeito. Ela andava sem pressa. Apesar de olhar para baixo, percebia o que acontecia ao redor. Não conseguia esconder seu sorriso. E que sorriso! Seus deslumbrantes olhos verdes combinavam com sua pele, com sua maquiagem, com a cor do cabelo... Detalhes encaixando-se romanticamente. Seu perfume, a maciez da pele, o formato do rosto. As mãos lisas, os pés pequenos, o corpo desenhado. E ela seguia devagar, graças ao salto, que não a permitia extrapolar na velocidade. A rua alongava a cada passo seu. Como uma passarela sem fim. Até a lua surgira – não queria perder o espetáculo. E uma linda e reconfortante música, com sua melodia preenchendo o momento com um toque de delicadeza. Mas tudo tem um fim. E o dela chegou ao final daquela rua. Infelizmente. Seus olhos resolveram vistoriar o espaço. E seu rosto foi elevado até seu nariz. Dessa forma, o trono começou a ruir. Os passos não estavam mais suntuosos. Seus pés pisavam com rudez. O sorriso, agora sinistro, perdia seu brilho, juntamente com a nobreza de seu rosto. Mais à frente, inadmissível, um pequeno e poderoso buraco. Mal de toda cidade. A imponência da bela dama esvaiu. E sentiu na pele as marcas da soberba. A humildade ainda continua sendo a maior das belezas.
Nota do Editor: Mateus dos Santos Modesto é jornalista. Veja também em www.mateusmodesto.com.br.
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