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COLUNISTA
Mateus Modesto
27/08/2008 - 16h01
Ônibus lotado
 
 

Quem nunca pegou ônibus lotado, que atire a primeira pedra. Melhor: quem já pegou ônibus lotado, que atire pedra. No busão! Quem, realmente, desconhece o que é isso, não sabe a sorte que tem. E põe sorte nisso.

Em um ônibus cabem mais de quarenta pessoas sentadas. Mas o estranho é que consegue comportar muito mais em pé – muito mais mesmo! Talvez seja delírio causado pelo calor humano, ou a sensação de desconforto constante, ou a frustração de nunca pegá-lo vazio. Não importa qual é a explicação: a viagem se torna estressante de qualquer maneira.

Viagem intermunicipal. Ônibus comercial. Ou convencional. Isso quer dizer que pára em todos os pontos do percurso – basta levantar a mão. Mulheres, sacolas, crianças, sacolas, mulheres, bagagens e senhores. Em um transporte desse tipo, pode-se levar tudo quanto o veículo comportar e suportar. Mas quem não suporta são os próprios passageiros. Seja o fedor, o empurra-empurra, o aperto, a mão boba...

Há quem diga que suportar um ônibus lotado, em pé e com “encochadas”, consegue superar muitas adversidades. Quem entra numa condução, sabendo que vai ficar em pé por muito tempo, encara a vida de uma maneira que poucos imaginam. Pode ser exagero, mas esta condição pouca gente nem ousa em pensar que pode, obrigatoriamente, enfrentar. Por exemplo, para algumas dessas pessoas, em um carro não cabem apenas seis passageiros: nove, e com folga; três horas na fila do banco é pouco; dividir uma coxa de frango com outras duas é tranqüilo.

Formaram-se três fileiras. O meio do corredor estava ocupado com passageiros. Dos mais magros aos mais gordos. Com enormes bolsas e sacolas. Seria uma verdadeira corrida com obstáculos para atravessar aquilo.

- Licença... Licença... Licença... – Marcos foi passando.
- Tem espaço... Opa!
- Desculpe!

Um pé levantado e não mais consegue encontrar o chão. Pisa no pé de um, na coxa do outro. Segura-se na barra em cima, respira fundo e prende, atravessa aos trancos e barrancos, escorando-se nas pessoas. A blusa, outrora branca, agora estava amarelada. Suor desce pela testa, mas ele conseguiu. Cansou.

Num determinado ponto, uma simpática senhora, de idade avançada – denunciada pelos belos cabelos brancos – decide entrar. Sobe num pulo, engarrafando ainda mais. Uma menina se levanta para ela sentar. A dificuldade ao girar o corpo e acomodar-se, segurando na barra que separa o motorista da agonia, gasta um tempo precioso. Atrás de Marcos, umas dez pessoas querendo descer. E sem paciência.

Ele se vê lançado para frente, empurrado por uma força exorbitante – ainda mais porque ele não estava apoiado. Passos confusos e atabalhoados levam-no para fora do coletivo. O medo toma-lhe o coração – poderia estar morto, pisoteado. A respiração acelera. Sua descida seria em oito pontos. Mas, ao ver a quantidade de pessoas que entraria, levanta as mãos e agradece a Deus. Nunca uma caminhada foi tão bem-vinda.


Nota do Editor: Mateus dos Santos Modesto é jornalista. Veja também em www.mateusmodesto.com.br.
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