Ela já o esperava. Sempre fora assim. Ela ficava sentada, esperando seu amor chegar para poder confessar seu dia, suas angústias, suas emoções. Era sempre uma alegria vê-los juntos, já que se podia ver o amor que emanava de seus olhares. Algumas pessoas não gostavam. Queriam vê-lo sem ela. Ela não o merecia. Ele parecia ser doce, amigo, sincero, atraente – era o que as outras garotas diziam. Mas ele não imaginava ser tudo isso, pelo menos não para essas meninas. Ele estava atrasado. Sempre chegava dez minutos depois dela. Já se passavam vinte. Ela não se incomodou. Permaneceu sentada, sozinha, pensando profundamente em algo que só ela sabia, e que angustiava quem a observava. “Olha ele!”, diziam as outras. Chegava com um sorriso no rosto. Sempre fora assim, e hoje não seria diferente. Chegou eloqüente, risonho, parecia animado. Ela continuava com o rosto sério, triste. Seus olhos não estavam brilhando. Não havia sorriso em seus lábios, nem vida em suas mãos, quando ele a segurou e apertou. Fizera um comentário, que trouxe um leve sorriso, mas não o suficiente para apagar aquela tristeza. Ele se fechou. Estava preocupado. “O que foi?”, perguntou desentendido. Ela respondeu com lágrimas. Escorria dos seus olhos sem cessar. Ele continuava preocupado, sem entender. As outras meninas continuavam a observar os dois. Queriam saber o que estava acontecendo. Também não entendiam. E uma platéia ali se formou. Todos analisando, acompanhando, à distância, o desfecho do encontro. Agora era ele quem estava sério. Ela se pôs a falar. E suas lágrimas continuavam a rolar, agora com menos intensidade. “Não dá mais”, pode-se ler em seus lábios. Ele baixou o olhar. E o rosto. Não estava acreditando. Levantou-se, respirou fundo, dando pequenas voltas. Sentou-se. Proferiu algumas palavras a ela, tocou em seu rosto, apertou suas mãos. Não obteve resposta. Não a que ele esperava. Deu um último suspiro. “Acabou?!”. Ela ficou em silêncio. Levantou-se, beijou-lhe a face, apertou uma de suas mãos e saiu, sem olhar para trás. Subiu as escadas com rapidez, atravessou a rua, dobrou a esquina... e se pôs a sorrir.
Nota do Editor: Mateus dos Santos Modesto é jornalista. Veja também em www.mateusmodesto.com.br.
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