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COLUNISTA
Mateus Modesto
21/01/2008 - 07h03
Infância minha
 
 

Na infância somos apresentados ao mundo. São os primeiros anos de nossa vida, os primeiros erros e primeiras conquistas. É tempo de aprender com os mais velhos, de formar nosso caráter.

De todas as coisas que fiz na infância, no interior da Bahia, comer fruta na árvore é minha melhor recordação. Jogar futebol no campo de terra, jogar bolinha de gude, tomar banho de rio, andar a cavalo, beber leite de vaca com farinha e mel, pescar com a camisa, correr de cachorro ou tomar banho de mangueira no quintal foram perfeitos. Mas nada tem o cheiro do passado quanto desfrutar da paisagem do alto de uma árvore.

Nem todos os meninos fizeram isso. Comer uma goiaba ainda no galho é privilégio para poucos. Lembro-me de quando conversava com meu primo e meus irmãos no alto de uma amendoeira. Aquele que chegasse até o último galho, bem no alto, no “oínho”, era o mais respeitado. Jamais fiz isso. Tinha medo de cair.

Certa vez, amigos e eu pegávamos umbu na fazenda de um velho senhor, muito ranzinza. Não vi problema nisso, já que havia frutas aos montes, inclusive se perdendo no chão. Quando ouvimos o tiro de espingarda, achamos que vinha em nossa direção. Um colega, no alto da árvore, despencou feito jaca. Mas imediatamente se levantou e todos voamos correndo dali. Atravessamos uma cerca num pulo, descemos uma ribanceira num segundo e fizemos o percurso de volta em metade do tempo que havíamos feito na ida – pelo menos eu presumo. E ainda conseguimos trazer um balde cheio de umbu. Não sei como.

A infância é louvável. Brincamos com felicidade e não temos responsabilidade. Dançamos um passo disforme da música. Não nos importamos tanto com o que vestimos, até porque andamos apenas com uma bermuda – mas isso só vale para os meninos. De tudo que vivi quando pequeno, agradeço a Deus pelo que não conheci: a miséria.

Quando guri, brincava rico e pobre. Todos juntos. As mesmas brincadeiras, os mesmos costumes. Entre nós não havia melhor ou pior. Apenas no futebol. Não olhávamos a raça nem as roupas. Éramos todos iguais. A malícia que invadiu o coração das crianças de hoje não existia antigamente. Muito menos a tecnologia, com o computador e videogame. Divertíamos em grupo, não individualmente. Arranhávamo-nos com as pedras, com as quedas, com os espinhos. Pulávamos corda, amarelinha e outras coisas que não me recordo o nome.

Os tempos são outros. A evolução do mundo necessita novos pensamentos e uma nova postura. Mas não importa se atualmente os meninos jogam gude ou CS, tomam banho de cueca ou de sunga, comem manga descascada ou não. O que realmente vale, na infância, é ser criança. Com mentalidade e interesse ingênuos. Divertida como pular em um rio, encantada como um circo. E extremamente amada.


Nota do Editor: Mateus dos Santos Modesto é jornalista. Veja também em www.mateusmodesto.com.br.
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