Os jornais exibem com estardalhaço mais uma faceta da obra de Champinha, o menino assassino, que segundo alguns sociólogos é apenas uma vítima da sociedade capitalista. Antes de matar o casal de estudantes, Champinha havia matado um homem e fora preso. O Estado não gosta de ser lembrado que o soltou mediante um laudo que dizia que ele não apresentava riscos à sociedade. Além dos três crimes conhecidos, agora Champinha coloca sua grife em um duplo homicídio com ocultação de cadáver. Em 1980, na União Soviética, um serial-killer matou mais de vinte crianças em uma cidade nos arredores de Moscou. Na verdade o número pode ser maior, muitas das crianças desaparecidas na época jamais foram encontradas. A polícia soviética não tinha experiência nesse tipo de crime, não havia um departamento especializado. A admissão da existência de assassinos seriais seria prejudicial ao comunismo. Segundo a teoria vigente esse era um mal gerado na instituição capitalista. Qualquer semelhança com o Brasil de hoje é mera coincidência. Em 1980, mesmo no fechado "Paraíso dos Trabalhadores", as comunicações tinham avançado e as famílias dos desaparecidos exigiam providências. O caso ganhou destaque regional, depois nacional e quando começou a aparecer na mídia internacional passou a incomodar os donos do poder. O governo soviético solicitou ajuda aos americanos e o FBI enviou uma equipe. Polícia é polícia, dizia Lúcio Flávio, os tiras se deram bem e após dois longos anos de investigação meticulosa chegaram ao assassino, um pacato professor, casado e pai carinhoso de dois filhos. Preso e ante a infinidade de provas ele confessou e indicou onde estavam enterradas as vítimas, que torturou e seviciou barbaramente antes de matar. O sistema soviético tinha um método próprio de lidar com criminosos irrecuperáveis. Um dia o professor foi chamado a depor e acompanhado de dois guardas foi introduzido em uma sala onde um terceiro policial os esperava. Um tiro na nuca com silenciador e o caso foi encerrado. No Brasil ele ainda estaria vivo, provavelmente esperando a regressão da pena para capturar e seviciar mais algumas crianças.
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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