Nunca me esquecerei do jogo em que a Argentina nos despachou da Copa de 1990. Maradona já confirmou em entrevista, dando risadas, o que eu constatei na tela da falecida Phillips de 21 polegadas. O Brasil jogou 85 minutos martelando o gol argentino, uma escapada do Pibe, a amabilidade de Alemão, que preferiu não fazer falta e Cannighia ficou na cara do gol. E fez o gol. Nesse dia fatídico muitos brasileiros ficaram na cara do gol e não marcaram. No dia seguinte uma avalanche de impropérios contra Lazaroni e Dunga apareceu em todos os jornais brasileiros, até na Folha Espírita que não costuma se imiscuir em coisas deste plano. Quanto papel foi gasto na análise do que tinha acontecido. Não faz muito tempo eu zapeava em busca de algum programa inteligente e me deparei com uma luta de UFC, esporte que lembra as arenas de Roma onde gladiadores estripavam-se enquanto o público ia ao delírio. Lutavam dois americanos, de um deles até guardei o nome, tamanha a empolgação do narrador. Randy Couture. Ele estava lutando apenas por questão de tabela, pois a sua superioridade era tanta que o adversário só podia esperar o momento em que seria nocauteado. Enquanto o narrador-torcedor tecia loas ao estilo Couture de lutar, guarda baixa, sempre avançando e cercando o adversário, disparando golpes precisos, aconteceu um direto demolidor. Do adversário de Couture. Contragolpe certeiro que colocou o imbatível Randy Couture na lona, dormindo profundamente. O narrador não perdeu a calma, passou a falar de falta de cuidado com a defesa, o maior problema do antes imbatível campeão. A coisa ficou tão sem sentido que esse narrador nunca mais foi convidado, acho que hoje é locutor das Casas Bahia de onde apregoa produtos a preço de ocasião. Dia 20 o Corínthians tomou um chocolate do Goiás e Ronaldo Fenômeno não marcou. No dia seguinte li que ele está gordo e acabado. Na próxima rodada, ainda gordo, ele é capaz de fazer um ou dois gols. Pelo retrospecto da carreira é o que se pode esperar, Ronaldo sabe fazer gols. Ele então passará a ser considerado como opção para a seleção que vai à Africa do Sul. Notícias de esporte. Melhor não ler. Tire você mesmo suas conclusões. E assista aos jogos na TV sem som. É mais divertido e não aborrece, pois quando o narrador é teimoso, as coisas que acontecem não importam, ele narra o que imagina ou o que gostaria que estivesse acontecendo. Não vou citar nomes, mas os leitores sabem a quem me refiro.
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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