Suponha que um dia você se veja na incômoda situação de uma iminente cirurgia cardíaca. Sem possibilidade de adiamento e sem chance de sobrevivência caso o procedimento não seja feito com urgência, só resta escolher o cirurgião. Na cidade onde você vive há dois disponíveis? O primeiro é sabidamente bom pai de família, sempre de banho tomado e penteado é religioso e comunga todos os domingos. Tem pouca experiência, mas é esforçado, embora ultimamente tenha perdido alguns pacientes. O segundo é gringo, egresso da guerra do Vietnã, mal-encarado, blasfemador, está sempre metido com mulheres e não é raro ir parar na cadeia por brigas decorrentes de bebedeiras. Já fez milhares de cirurgias, é capaz de operar com os olhos vendados e há anos não sabe o que é perder um paciente. Frente a uma situação dessas, sabendo que a sua vida está em jogo, você vai analisar apenas a competência profissional. A vida das pessoas é assunto delas, não é mesmo? Peculiaridades pessoais não contam na hora de mostrar trabalho. Será que não seria importante pensar assim ao escolher o candidato que terá o seu voto? Tendo de optar entre um bom moço sem experiência e um resmungão aborrecido e teimoso, mal-educado, vaidoso e dono da verdade, mas extremamente competente, qual seria a sua escolha? Você decide...
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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