Esse conceituado informativo que tem nome de um crustáceo decápode que cava buracos nos quais se oculta, tem conflitado com o próprio nome mostrando constantemente em sua coluna De olho em Ubatuba, cenas de uma cidade degradada pela indiferença dos que nela habitam e a administram. Apesar das fotos muitas vezes marcantes são apenas uma mostra tímida do descalabro em que se encontra uma cidade abandonada há décadas por seus moradores e administradores. Não culpo somente a municipalidade, mas sim seus habitantes que não aprenderam a eleger representantes dignos e competentes e nem brigam por seus direitos de cidadãos. Após rodar por muitos municípios brasileiros cheguei à conclusão que as cidades são feitas por seus habitantes e que a administração municipal é apenas uma coadjuvante. Estou cansado de ouvir reclamações de moradores de Ubatuba que não levantam uma palha em prol da cidade. É só caminhar pelos bairros e ver que, por exemplo, pintura e jardim são itens negligenciados pelos proprietários de imóveis residenciais, ou mesmo comerciais. Poucos são os que mantêm suas propriedades em ordem. Sem dúvida, a Prefeitura aproveita o desleixo de grande parte de seus contribuintes para agir da mesma forma. É uma grande pena, mas enquanto a população não perceber que ela também é responsável pelo estado de penúria em que se encontra a cidade, nada vai mudar. Não sou contra a divulgação da coluna, muito pelo contrário, no entanto os buracos são muito mais profundos do que os mostrados nas fotos - que por sinal oferecem ótima qualidade e chegam muitas vezes a provocar sentimentos menos nobres como ira, revolta ou dó. Ubatuba está chegando ao fundo do poço, é hora de começar a parar de cavar. Ou seus habitantes começam a reagir ou chegaremos a um ponto em que a cidade se tornará inabitável. Sem hospital confiável, sem boas escolas, sem ruas transitáveis, sem segurança, sem planejamento e sem interesse dos que nela habitam ou a administram, Ubatuba se igualará às cidades que possuem hoje os piores índices de qualidade de vida do planeta. Falta muito pouco para que isso aconteça, é só uma questão de continuidade do atual marasmo e tempo. Seus habitantes deveriam parar de brigar entre si e começar a arregaçar as mangas e trabalhar. É claro que existem exceções, mas são a cada dia mais raras.
Nota do Editor: Ricardo Yazigi é engenheiro civil, mestre em ciências pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).
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