Há algumas décadas a Prefeitura de Ubatuba resolveu fazer um grande plano de asfaltamento da cidade quando as ruas de terra ainda dominavam a paisagem. Na época fui consultado a dar diretrizes para o novo Projeto. Explanei sobre os vários tipos de asfaltos existentes e as camadas mínimas a serem executadas a fim de se produzir um asfalto de qualidade. Após um rápido levantamento de custo a municipalidade chegou à conclusão que poderia fazer uma quantidade de asfalto três vezes maior se suprimisse alguns procedimentos e camadas definidas pelo projeto básico. Alertei que neste caso o asfalto começaria a se degradar com o aparecimento de panelas - nome técnico para buracos - já a partir do seu primeiro ano de vida e que sua manutenção seria eternamente paliativa. Entretanto, mais uma vez a política (ou seria politicagem?) venceu covardemente a técnica. O resultado todos bem conhecemos. A solução definitiva não passa mais por uma simples operação tapa-buracos e sim por uma reconstrução do pavimento. Acontece que o infeliz contribuinte já pagou pelo serviço e não aceitaria esse novo encargo. Trata-se de uma equação complexa de difícil solução. Infelizmente, só uma administração séria encararia esse novo desafio. Particularmente não enxergo solução a curto prazo. Vive-se em Ubatuba como no restante do país, com pouca esperança de efetiva mudança. O desafio nacional ficará certamente para as próximas gerações. Enquanto isso na poesia: O buraco Ando pela rua. Há um buraco fundo na calçada. Eu caio... Estou perdido... Sem esperança. Não é culpa minha. Leva uma eternidade para encontrar a saída. Ando pela mesma rua. Há um buraco fundo na calçada. Mas finjo não vê-lo. Caio nele de novo. Não posso acreditar que estou no mesmo lugar. Mas não é culpa minha. Ainda assim leva um tempão para sair. Ando pela mesma rua. Há um buraco fundo na calçada. Vejo que ele ali está. Ainda assim caio... É um hábito. Meus olhos se abrem. Sei onde estou. É minha culpa. Saio imediatamente. Ando pela mesma rua. Há um buraco fundo na calçada. Dou a volta. Ando por outra rua. Poesia extraída de O Livro Tibetano do Viver e do Morrer, de Sogyal Rinpoche (Ed. Talento/Palas Athena)
Nota do Editor: Ricardo Yazigi é engenheiro civil, mestre em ciências pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).
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