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COLUNISTA
Ricardo Yazigi
20/03/2018 - 05h52
Como surgiram os buracos de Ubatuba
 
 

Há algumas décadas a Prefeitura de Ubatuba resolveu fazer um grande plano de asfaltamento da cidade quando as ruas de terra ainda dominavam a paisagem.

Na época fui consultado a dar diretrizes para o novo Projeto.

Explanei sobre os vários tipos de asfaltos existentes e as camadas mínimas a serem executadas a fim de se produzir um asfalto de qualidade.

Após um rápido levantamento de custo a municipalidade chegou à conclusão que poderia fazer uma quantidade de asfalto três vezes maior se suprimisse alguns procedimentos e camadas definidas pelo projeto básico.

Alertei que neste caso o asfalto começaria a se degradar com o aparecimento de panelas - nome técnico para buracos - já a partir do seu primeiro ano de vida e que sua manutenção seria eternamente paliativa.

Entretanto, mais uma vez a política (ou seria politicagem?) venceu covardemente a técnica.

O resultado todos bem conhecemos.

A solução definitiva não passa mais por uma simples operação tapa-buracos e sim por uma reconstrução do pavimento.

Acontece que o infeliz contribuinte já pagou pelo serviço e não aceitaria esse novo encargo.

Trata-se de uma equação complexa de difícil solução.

Infelizmente, só uma administração séria encararia esse novo desafio.

Particularmente não enxergo solução a curto prazo.

Vive-se em Ubatuba como no restante do país, com pouca esperança de efetiva mudança. 

O desafio nacional ficará certamente para as próximas gerações.

Enquanto isso na poesia:

O buraco

Ando pela rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Eu caio...
Estou perdido... Sem esperança.
Não é culpa minha.
Leva uma eternidade para encontrar a saída.

Ando pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Mas finjo não vê-lo.
Caio nele de novo.
Não posso acreditar que estou no mesmo lugar.
Mas não é culpa minha.
Ainda assim leva um tempão para sair.

Ando pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Vejo que ele ali está.
Ainda assim caio... É um hábito.
Meus olhos se abrem.
Sei onde estou.
É minha culpa.
Saio imediatamente.

Ando pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Dou a volta.

Ando por outra rua.

Poesia extraída de O Livro Tibetano do Viver e do Morrer, de Sogyal Rinpoche (Ed. Talento/Palas Athena)


Nota do Editor: Ricardo Yazigi é engenheiro civil, mestre em ciências pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).
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