A era digital está sugando nossas energias. Computadores, celulares, TVs, tablets, e-books... Quanto tempo por dia ficamos em contato com essa parafernália? Chegamos ao final do dia exaustos. Como responder às dezenas de e-mails recebidos? Como ler centenas de mensagens eletrônicas diariamente? Não temos mais tempo para olhar a vida, as pessoas, os amigos, os parentes, o pôr do sol, a vizinha bonita... Não temos mais tempo para jogar conversa fora, pensar no vazio ou nas teorias dos filósofos antigos. Se viajássemos à velocidade da luz o tempo pararia para nós na teoria einsteiniana e aí conseguiríamos voltar a pensar, a refletir sobre a vida, a descobrir novamente nosso eu. Mas viajar na velocidade da luz das estrelas está tão distante quanto o dia em que as guerras serão extintas. Será que existe vida inteligente no mundo digital? A poesia da vida foi extinta pelo virtual, ou ainda é possível sonhar? Mas será que o mundo virtual já não está sentindo o peso da idade? Os adolescentes já acham e-mail coisa do passado, o barato são as redes sociais e o twitter, que transformou longas reflexões em frases condensadas, monossilábicas, o resumo do resumo do resumo. O teclado já está sendo substituído pelos toques na tela e os comandos do mouse por comandos de voz. O pensamento já pode ser lido parcialmente por máquinas avós das criadas pelos russos na guerra fria. O mundo virtual fica cada vez mais dinâmico e nós, cada vez mais estáticos. Estáticos e impotentes diante de transformações cuja velocidade parece querer atingir a velocidade da luz. Assim como as segundas-feiras existem para tirar nosso humor, deveria ser criado o dia do desplugue-se para nos deixar relaxados. Neste dia, não teríamos contato com nenhum meio não humano. Relações virtuais de quaisquer espécies estariam proibidas. Nada que tivesse uma tela iluminada poderia ser utilizado. Nossos olhos poderiam descansar, nossos dedos trocariam as batidas nos teclados pelo passeio no papel com um instrumento em extinção denominado caneta. Poderíamos olhar o sorriso da vizinha bonita e voltar a sonhar. Neste dia, a poesia voltaria a nos emocionar, a família sentaria no sofá para conversar e os amigos iriam ao boteco jogar conversa fora. O dia semanal do desplugue-se deveria entrar no calendário oficial. Não importa o dia da semana a ser escolhido. Se caísse na segunda-feira espantaria o mau humor, se caísse no final de semana voltaria a encher os estádios de futebol, pois a TV estaria proibida. Enquanto não se cria oficialmente o dia do desplugue-se sugiro que cada um de nós institua o seu. Seu corpo vai agradecer, seus amigos e parentes também e quem sabe aquela vizinha bonita...
Nota do Editor: Ricardo Yazigi é engenheiro civil, mestre em ciências pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).
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