Sidney Borges |  |
Na noite de ontem Ubatuba viveu um momento raro. A população se mobilizou. Quem sabe se tivesse acontecido coisa semelhante há alguns anos, não seria necessário o encontro, que embora tenso, representou um avanço democrático. Desde a manhã de ontem, quando o gabarito da obra de cobertura da área destinada ao comércio de produtos artesanais e afins, foi colocado, ficou uma dúvida no ar. Será que vão cortar as árvores? Segundo um trabalhador que estava com a planta de locação nas mãos, sim. Tanto as amendoeiras como o cruzeiro, seriam removidos. Com relação ao cruzeiro não há maiores problemas, é um símbolo de fé e pode ser colocado em outro lugar. Já em relação à amendoeira centenária não há como concordar. A árvore é velha e não resistiria à remoção. É importante ressaltar que a feira hippie é uma realidade e não há como contestar a sua existência. Também é preciso que se diga que os comerciantes não fazem questão de ter a feira no local da obra. Segundo o vereador Claudinho Gulli, representante dos comerciantes, tanto faz. A feira pode ser onde era antes ou onde está hoje, desde que seja coberta, como prometeu o ex-prefeito Paulo Ramos, nas calendas gregas. Cabe abrir parênteses. Ubatuba está enfrentando problemas em função do descaso da população em relação aos políticos nos quais vota. Os problemas gravíssimos da cidade são decorrentes das más gestões dos últimos vinte anos. Quando as pessoas começaram a se acercar do local da manifestação, a Prefeitura já havia comunicado o engano. Erro de locação! Meu velho professor de Topografia, o querido e simpático Mesquita deve ter virado no túmulo. Já não fabricam teodolitos como os de outrora. Aqueles trambolhos da DF Vasconcellos eram tiro e queda. Hoje, com estações totais, GPS e softwares específicos, engenheiros-barbeiros erraram a locação da obra, deixando a cidade louca de raiva. Se tivessem consultado o Julinho, caiçara porreta que mede certinho, nada disso teria acontecido. Providencialmente o assessor do prefeito, Maurinho, foi para o local e munido de uma trena divina consertou a quase tragédia. Parabéns Maurinho, você salvou uma árvore centenária e merece os aplausos da cidade. Vai ser difícil convencer o IPHAN que a obra precisa ser situada na frente do Casarão do Porto, mas isso é outra história. Depois de muita confusão em que ninguém entendia nada do que se passava, o projeto da cobertura foi apresentado ao público debaixo de aplausos. Como diria Bruno Zevi, a malta não sabe ver arquitetura. Aplaudir o quê? O desenho apresentado faz lembrar as tendas que as revendedoras de veículos colocam provisoriamente nos pátios para expor a mercadoria. Os comerciantes da feirinha, os turistas e a cidade de Ubatuba mereciam mais. Havia de ser um projeto sensível, adequado ao local. Uma estrutura leve, diáfana, como as asas de uma libélula, bonita, atraente e funcional. Se há que fazer então que se faça direito. O prefeito, que não foi ao local, mas passou de carro em frente, ficará conhecido como o responsável pela obra. O custo político poderá ser medido na próxima eleição. De qualquer forma foi, como eu disse acima, uma expressão de maturidade democrática.
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
|