Era difícil entender o que se passava na minha adolescência. Houve uma campanha intitulada "Dê ouro para o bem do Brasil", dos Diários Associados. Foi logo após a revolução de 1964, que de revolução não teve nada, nem um tiro foi disparado. Eu dei um anel e ganhei outro. Entreguei um anel de ouro, valioso e levei um de latão, cheio de valor simbólico. Na minha ingenuidade infanto-juvenil a ação teve caráter heróico. Eu estava salvando o Brasil do "ouro de Moscou", que segundo o dono dos Diários Associados, Assis Chateaubriand, entrava sorrateiramente pelas fronteiras de nosso país com a finalidade de macular a célula mater da "raça" brasileira, a família cristã. Desconfio que matreiramente Chatô embolsou o ouro que não era exatamente de Moscou, mas como todos sabem, quando colocado no bolso o ouro perde a origem. Agora estão dizendo que entrou dinheiro cubano em nosso Brasil varonil. Será mesmo? Com que finalidade? Se ainda fossem charutos ou rum ou músicos velhos eu entenderia. Dizem que foram três milhões de dólares, dinheiro suficiente para alugar os serviços de Duda Mendonça por algumas semanas. O gênio baiano cobra caro, depois gasta tudo em brigas de galo. Aliás, Cuba poderia exportar a frota de carros velhos que por lá circula, valem mais do que os novos que estão aí e que não duram nada. Depois de pensar muito, entendi o que houve. Não pensem em qualquer intenção revolucionária. O ouro de Fidel é pacífico. Foi um empréstimo para satisfazer um capricho de nosso bravo presidente-metalúrgico. Lula quer comprar a casa da Dinda. Ele adoraria ter uma cascata no jardim, com direito a jacarés no lago e cisnes. Desejos humanos são assim. Não obedecem a critérios lógicos. Será que Collor vende?