Leio na Folha que um dos terroristas envolvidos no massacre da Espanha chama-se Abu Dadah. O nome soa familiar, consulto a memória e logo descubro a origem. Audadá. Era o grito de guerra do vendedor de Língua da sogra. Nunca mais vi esse doce, nem nas doceiras, desapareceu. Talvez ainda exista em algum lugar desse Brasil imenso. Era uma massinha frita em volta de um pedaço de cabo de vassoura. Depois de retirada a madeira, o canudo de massa era recheado com creme. De um lado, creme de chocolate, do outro, de baunilha. Também havia canudinhos cônicos, geralmente recheados com doce de coco e, quando salgados, com creme feito à base de camarões. Os vendedores enfileiravam-se na porta da escola; vendiam quebra-queixo, machadinha, e jatobá, que deixava a boca amarela e pegajosa. Tinha cheiro de chulé. Também havia o vendedor de bijus, com o instrumento de percussão característico. Na parte superior do tubo cilíndrico, ficava a roleta. Quem comprasse um biju concorria a diversos prêmios, o maior deles três bijus. Abu Dadah mata em nome de Alá. Tenho minhas dúvidas se Alá aprova. Aliás, todos matam em nome de Deus, da liberdade e da verdade. Deviam parar com a matança e fazer milhares de línguas da sogra, doces e salgadas e depois comê-las em uma grande festa, com bijus e tudo o mais. Alá iria gostar.
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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