Neste exato momento, em algum posto de gasolina estão colocando no tanque de um carro o bisavô do bisavô do bisavô do meu bisavô. Vão queimar o pobrezinho. É isso, o mundo caminha impulsionado pela combustão dos restos sagrados de nossos ancestrais. Você nunca teve a sensação familiar de viajar acompanhado quando dirige à noite sozinho? Pode ser alguma tia morta há dois bilhões de anos, na época uma reles planária. Planária gorda é verdade, mas apesar da aparência burguesa, ainda uma planária. Pois é a titia está no tanque, na iminência de ser tragada pelo pescador e transformada em vapor para empurrar o pistão após explodir. Será que é daí que vem a idéia do inferno? Queimar antepassados fere as regras da convivência harmônica entre os espíritos. Ainda que seja por uma causa nobre. O resultado pode ser medido através dos cada vez mais presentes furacões, terremotos e outras manifestações de descontentamento da Terra. O que fazer? Seria prudente ofertar coelhos a Júpiter. Temo, entretanto, que não funcione a contento, os deuses romanos há muito migraram para outras galáxias para manobrar os destinos dos humanos que porventura lá existam. Enquanto queimamos corpos decompostos, o que fazemos em larga escala desde o princípio do século XX, aumentamos a dificuldade de dispersar o calor contido na atmosfera. Isso pode ser perigoso. Seria prudente investir esforços na busca de energia limpa. E se possível, barata. Acontece que os donos da indústria petrolífera não querem perder dinheiro. Para tanto, vale num dia financiar Saddam Hussein e no dia seguinte derrubar Saddam Hussein, em nome de deus e da democracia. Seria mais honesto falar em nome das sete irmãs que controlam o petróleo mundial. Não sendo catastrofista, acredito que haverá alguma saída. Mas tem de ser logo, o calor está aumentando...