Meu primeiro contato com a morte ocorreu com pouco menos de quatro anos de idade. Foi quando morreu o meu avô. Lembro-me fotograficamente da cena. Vovô morreu na cama, deu o último suspiro aos quarenta e seis anos de idade, vitimado por um câncer no estômago. Morreu com uma vela nas mãos, contra a vontade, ele que não acreditava em nada foi submetido ao desejo de minha avó, que acreditava em tudo. Depois morreram outros parentes não tão próximos, alguns velhos, outros moços, até que um dia morreu minha mãe, eu já adulto. Foi quando entendi o significado real da perda. A morte, a partir desse dia, deixou de ser uma abstração, algo que aconteceria num futuro longínquo. Passou a ser uma companheira presente e por que não dizer, uma boa conselheira. Depois morreram outras pessoas queridas, meu pai, minha tia, minhas avós, meu avô materno longevo que chegou perto dos cem, alguns primos, aos poucos a família foi sendo substituída pelos que nasceram. Lembro-me bem do dia da morte de Tom Jobim. Eu estava na avenida Rebouças, preso num engarrafamento quando a rádio Eldorado começou a tocar músicas do maestro de forma contínua. Chovia fino. Num certo instante o locutor anunciou que Jobim havia morrido. Fiquei numa situação embaraçosa, os olhos se encheram de lágrimas, o trânsito andou e eu não conseguia ver nada. Ontem (03/10) morreu Emilinha, a favorita da Marinha. O que ainda resta de minha infância são meras lembranças. Os personagens que a povoaram estão desaparecendo. Vida longa a Cauby Peixoto!
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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