Em 6 de agosto de 1945 o mundo ouviu falar de uma nova arma lançada sobre o Japão. Uma bomba atômica. Fora alguns físicos, contados nos dedos, ninguém mais tinha idéia do que significava o artefato. Dias depois outra bomba atômica foi lançada. O Japão se rendeu e a Segunda Guerra Mundial acabou. Começou então a lenda em torno da bomba de Hiroshima. A de Nagasaki não causou tantos danos e quase não é mencionada. Atribui-se às bombas a decisão japonesa de capitular. Obviamente elas tiveram um papel importante. Entretanto o que de fato fez com que os japoneses desistissem de continuar lutando numa guerra sem perspectivas foi a União Soviética. O poderoso exército de Stalin estava na iminência de invadir o Japão e isso significaria o fim da nação milenar. Era melhor se render e continuar existindo. Apesar da afronta o Japão sobreviveu. Quanto aos estragos da bomba, foram terríveis, mas para os bombardeados não importa a origem do calor infernal, se produzido por combustão de napalm, fósforo ou desintegração de átomos. Todos os bombardeios são desumanos. O bombardeio de Dresden foi tão terrível quanto o de Hiroxima, embora as bombas lançadas tenham sido convencionais. Dresden não era um alvo militar, no fim da guerra estava apinhada de refugiados, homens feridos, mulheres e crianças. O bombardeio foi feito com levas de aviões. Mil de cada vez. Despejavam a carga e voltavam para buscar mais, quase não havia defesas contra os bombardeios. Durante o dia atuavam os americanos, à noite os ingleses. A temperatura no centro da cidade atingiu três mil graus Celsius, o ar quente subia e produzia ventos calcinantes. As pessoas evaporavam sem deixar vestígios. Uma cena da época, retratada por um jornalista belga, marca bem os horrores da guerra. Um homem levando nas mãos um balde, contendo uma pasta esbranquiçada, foi parado numa barreira. Perguntado sobre o que era aquilo, disse que era o filho de oito anos. Ou o que restou dele. O dia seis de agosto deveria ser lembrado como o dia da imbecilidade humana. O animal que se diz filho de Deus é uma máquina de matar, incapaz de reconhecer o semelhante. Quiçá Darwin esteja certo e a besta evolua.
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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