Nestes dias de CPIs, em que as notícias são aguardadas com ansiedade, em que depoimentos e listas de suspeitos de corrupção tiram o sono dos poderosos, a imprensa via Internet começa a ganhar o espaço que um dia deverá ser primordialmente seu. Aos jornais de papel restarão as resenhas e os ensaios. Não consigo me situar no mundo anterior à rede. Como eu viveria sem o "Blog do Noblat"? Sempre me vem à cabeça a luta do século, uma das inúmeras do século XX. Aconteceu em abril de 1985, em Las Vegas. Defrontaram-se pelo título dos médios Marvin "Marvelous" Hagler e Thomas Hearns. Na época eu trabalhava na TV Globo, na praça Marechal Deodoro, em São Paulo, debaixo do minhocão. Na redação só dois jornalistas tinham interesse em boxe, Enio Pesce e eu. Ah! Quase ia me esquecendo do Tonico Duarte. Apesar de ser a luta mais importante do ano e a que mais dinheiro movimentou, não foi transmitida para o Brasil. O resultado chegou pelo teletipo da chefia de reportagem, às duas horas da manhã. Hagler venceu por nocaute no segundo round. Hoje a luta estaria disponível em diversos sites, em tempo real, com texto e fotos. No último sábado tive uma surpresa que só confirmou minha convicção do papel da mídia eletrônica. Ao abrir a Folha, (1º clichê) dei com a notícia da continuidade do impasse entre o Real Madrid e o Santos, tendo Robinho como pivô. Ao acessar a Internet, a notícia era outra, os clubes tinham entrado em acordo. Até o fechamento do jornal a notícia do impasse era verdadeira. Meia hora depois das rotativas iniciarem a aceleração angular para atingir a velocidade constante de impressão, deu-se o desfecho. Robinho vai finalmente jogar ao lado de "Ronaldinho Gordo". O jornal chegou às bancas com uma notícia falsa. Sinal dos tempos, o jornalismo mudou. Sei por experiência que haverá resistência. Os velhos jornalistas continuarão renitentes. Foi assim quando os terminais de computadores substituíram as velhas e barulhentas máquinas de escrever. Mas uma coisa é certa, com o advento da Internet ficará mais difícil fugir à verdade. Os jornalões já não têm o privilégio de decidir o que deve ser informado. Estamos nos aproximando da tão sonhada democratização das informações. Mas ainda há muito para caminhar.
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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