Uma preocupação recente e constante da Câmara Municipal de Ubatuba refere-se às antenas do sistema de telefonia celular. A proximidade destas em relação às escolas e residências e os possíveis danos que acarretariam à saúde de estudantes e moradores, tem proporcionado debates calorosos. A preocupação é relevante, cabe aos vereadores zelar pela cidade e pela saúde de seus habitantes. Infelizmente, muito do que tem sido debatido é baseado em ouvi dizer e acho quê. Em se tratando de matéria revestida de cunho científico é preciso buscar a verdade. Nada deve ser dito ou concluído sem que antes seja feita uma pesquisa exaustiva. Em ciência não existe achismo, as coisas são ou não são, com a exceção da determinação da posição e da velocidade das partículas elementares, como bem frisou Eisenberg. Antes de entrar em detalhes técnicos, cabe lembrar aos bravos edis que as empresas de telefonia móvel não podem se dar ao luxo de produzir artefatos que as tornem passíveis de sofrer processos. Os acionistas derrubariam a diretoria. Fora do complacente mundo da administração pública é preciso cuidado com o que se diz e o que se faz, sob pena de desemprego. Em países desenvolvidos o uso dos telefones móveis, é exponencialmente maior do que aqui. Não é possível que os celulares e suas antenas causem danos em Ubatuba e não no exterior. Nós não os projetamos, os celulares que aqui operam são idênticos aos de outros países. Os que ostentam o selo Made in Brazil são montados a partir de projetos vindos de fora. Se não causam problemas em Londres, Nova Iorque, Paris ou São Paulo, não sei porque causariam neste paradisíaco recanto do Litoral Norte. Também deve ser do conhecimento dos senhores vereadores que nos países desenvolvidos, processos movidos contra empresas que causam danos à saúde pública, têm produzido indenizações de grande monta. A fabricante de cigarros J. R. Reynolds, perdedora de ações movidas por ex-fumantes, está desembolsando quantias que somam parte considerável da dívida externa brasileira. Seria prudente estudar o problema em profundidade antes de legislar. Um parecer definitivo não deveria vir apenas de uma ONG, são necessárias outras opiniões, sugiro aos vereadores consultar o Instituto de Física da USP, a Faculdade de Medicina da USP, e o IPT, também da USP, de lá poderão vir dados importantes para a formação de conceitos. Consultas à Unicamp, à Unesp e ao ITA também devem ser consideradas. Telefones móveis (celulares) Um telefone celular é um rádio de baixa potência que acionado envia sinais a uma estação base. (A antena elevada, geralmente no topo de uma torre.) A partir da estação os sinais são transferido através de cabos terrestres. Tanto os telefones como as antenas emitem ondas eletromagnéticas. Ondas de rádio de baixa potência. Os níveis de exposição a essas ondas situam-se muito abaixo do que poderia ser considerado nocivo. A comunidade científica internacional está de acordo que a potência gerada pelas antenas dos aparelhos de telefonia celular é incapaz de produzir riscos à saúde. Isto refere-se às antenas dos aparelhos, que ficam próximos às cabeças dos usuários. Quando apareceram no mercado os primeiros telefones celulares, surgiram boatos que quem os usasse contrairia câncer e outras histórias afins, cheias de ouvi dizer e alguém me disse. A preocupação surgiu porque as antenas dos aparelhos ficam muito próximas ao corpo do usuário, como foi dito acima, originando o que é conhecido como ponto quente. É possível, embora nada haja de conclusivo, que um telefonista fanático, que permaneça alguns anos falando vinte e quatro horas por dia, num aparelho de telefonia celular, sofra algum tipo de dano. É possível, não foi feito ainda o experimento, portanto também é possível que nada aconteça. Isso vale se ele apenas falar, quando o aparelho recebe, as ondas chegam sem nenhuma possibilidade de causar danos. As antenas que estão nas torres, não criam pontos quentes no chão, a região que "poderia" causar algum tipo de mal fica aproximadamente a seis metros da antena (20 pés), na sua parte frontal. Esta região do espaço situa-se bastante elevada em relação ao solo. Nenhum ser desprovido de asas poderá avizinhar-se desse local. Portanto, as antenas elevadas não causam mal a quem está no chão. Os ornitólogos que reclamem, há pássaros correndo riscos. É conveniente lembrar que se essas antenas causassem algum tipo de dano à saúde, parte considerável da população dos países do Hemisfério Norte estaria com problemas. Nem vou falar dos moradores da Avenida Paulista e proximidades, onde há antenas emitindo ondas de rádio, de TV, de radar e tantas outras. A vida já deveria ter desaparecido daquelas plagas. Ondas eletromagnéticas Ondas eletromagnéticas são provenientes do movimento de cargas elétricas. Um elétron oscilando gera um campo magnético e este variando gera um campo elétrico. A propagação desses campos no espaço constitui uma onda eletromagnética. O número de oscilações da fonte, na unidade de tempo, caracteriza a freqüência da onda. A luz, que é percebida pelos nossos olhos, faz parte do espectro das ondas eletromagnéticas. É errado dizer que a exposição às ondas eletromagnéticas é prejudicial à saúde. Isso varia conforme a freqüência. Luz violeta não é prejudicial, já o raio ultravioleta, invisível a olho nu, que tem freqüência mais alta, é cancerígeno. Ondas de rádio não são prejudiciais, o espaço à nossa volta está imerso nelas. Ondas de alta freqüência, emitidas por materiais radioativos, são perigosas e podem causar danos fatais aos seres humanos. Raios x, raios gama e raios cósmicos fazem parte dessas ondas que devemos evitar. Consultando o site Saúde e vida On Line, encontrei um interessante artigo do Prof. Dr. Renato Sabbatini, da Unicamp, do qual transcrevo uma parte: Um estudo de um ano com 250 mil usuários americanos de celulares mostrou que a mortalidade geral e a incidência de todos os tipos de câncer é menor nessa população do que na de pessoas que não usam celulares (provavelmente porque têm maior poder aquisitivo). Aliás, em nenhum dos oito estudos epidemiológicos de alta qualidade realizados entre 1988 a 1992, foi demonstrada qualquer associação estatística significativa entre exposição à ondas de rádio (inclusive entre operadores de radar, submetidos a altíssimos níveis, diariamente) e o aumento do risco de qualquer tipo de câncer ou leucemia. Ratos submetidos à irradiação eletromagnética semelhante à observada em aparelhos celulares viveram mais tempo do que os animais controle (nas mesmas condições, sem irradiação); Em uma revisão recente de trabalhos experimentais de alta qualidade científica, o Prof. John Moulder, do Centro Médico da Universidade de Wisconsin, EUA, e uma das maiores autoridades do mundo em efeitos de ondas eletromagnéticas sobre a saúde, concluiu que na imensa maioria dos trabalhos não conseguiu-se demonstrar que campos de radiofreqüência semelhantes aos da telefonia celular tenham qualquer efeito sobre o aparecimento de tumores ou maior taxa de crescimento de tumores já existentes, ou que ainda tenham efeitos genetóxicos (quebra do DNA em células) ou teratogênicos (causadores de malformações fetais), in vitro (em culturas de células) ou in vivo (em animais vivos). Os dados de mais de 100 estudos científicos sugerem que a RF não causa mutações diretamente, e que efeitos adversos aparecem somente em altíssimos níveis de potência, devido ao efeito de esquentamento, semelhante ao obtido num forno de microondas. Frente a tudo isso, é inevitável concluirmos que as pessoas que estão espalhando supostos "dados" sobre o efeito cancerígeno do uso de telefones celulares estão sendo de uma enorme irresponsabilidade. Impressionadas, as pessoas passam a atribuir uma série de doenças naturais ao suposto uso de telefones celulares, ou a morar perto de antenas. É amplamente conhecido o efeito psicossomático dessas coisas. Sem dúvida, ainda existem algumas indagações, trazidas por alguns poucos trabalhos que dizem ter observado efeitos negativos. Pesquisas adicionais são bem-vindas e necessárias. Mas não parece haver razão para alarme. Use seu celular sem medo. Conclusão Uma afirmação feita na última sessão da Câmara foi coerente e sensata. As antenas do sistema de telefonia celular, embora não causem danos à saúde, causam mal-estar aos olhos. São poluentes. São feias. Isso é insofismável. Se os "nobres" vereadores querem de fato tirá-las da cidade, devem saber que não será mais possível usar telefones celulares em Ubatuba. Em ano de eleição isso pega mal. Outra possibilidade seria algum vereador propor uma lei que impeça as ondas eletromagnéticas de se propagar, sem que isso tire os telefones do ar. O legislativo mudando a ciência para o bem da população. Reeleição garantida. Isso se o prefeito não vetar. Aliás, não sei se os leitores notaram, o prefeito e o presidente Lula estão cada dia mais parecidos.
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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