Um convite para ser madrinha de casamento pegou-me de surpresa. Um belo envelope em papel manteiga todo bordado com rococós de picada de agulhas embalavam a missiva em minhas mãos. Anexo um simpático lembrete: “Todas as madrinhas usarão vestidos na cor azul piscina.” Que disparate! Todo mundo sabe que eu não costumo usar vestido. Que diferença faz se o vestido é azul piscina, azul turquesa, azul sei lá o que o diga. Eu não uso vestido. Não, mas querem ver sangue! A última vez que experimentei um vestido, e pedi a opinião de minha sobrinha menor, ela me comparou com a bonecona que acompanha a dança do boizinho. E ainda disse mais: - O botijão de gás da mamãe tem um vestido bem parecido com esse. Criança não mente. Criança observa e faz comparações. Elas tem um radar em lugar de cérebro. Captam tudo. Mesmo assim, teve um momento que me vi dentro de um vestido azul piscina, saltitando sobre um campo florido como A Noviça rebelde, estrelado pela Julie Andrews. Teve uma hora que até volitei! Num flash cai de cara quando olhei de novo o envelope com o convite e me dei conta que era um casamento, não um filme da Twentieth Century Fox. No dia marcado, lá estava eu no altar testemunhando os noivos. Altiva, soberba, elegante, maquiada, sob um salto número quinze e o com o vestido azul piscina. Escondendo todas as sobras, estava um macacão cinta elástica, comprada a prestação nas Casas Pernambucanas. Tortura? Tortura foi para pagar depois.
Nota do Editor: Fátima Aparecida Carlos de Souza Barbosa dos Santos, ou simplesmente Fátima de Souza, é, sem dúvida, a primeira caiçara da sua geração a escrever sobre temas do cotidiano local. É autora de Arrelá Ubatuba.
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