Abenção, Ubatuba! Trago comigo o recibo de um grande pacto de amor com você. Quando nasci, meu umbigo foi enterrado na goteira lá de casa, para que eu nunca esquecesse de minha origem. Esse evento era costume das parteiras antigas. Selava assim o compromisso de sempre lhe respeitar, amar e louvar o berço que me ofereceu a luz da vida. Abenção, Ubatuba, terra de Aimberê, Joanhangaro, Cunhambebe, Coaquira, Pindobuçu, os cinco guerreiros índios do Brasão Municipal. Terra de Sebastião e Josefa Rita, Salvador e Isabel meus avós, Maria e João meus pais. Abenção, Ubatuba, terra de pescadores, poetas e trovadores, semeadores de imaginação. Abenção, Ubatuba, onde o primeiro lume do verão é derramado nas areias de Iperoig. Onde o vento brinca de pique esconde nas velhas amendoeiras. Onde o Pico do Corcovado é um gigante adormecido guarnecendo seu território. Onde o poeta um dia discursou fervoroso: - “Tu és uma pérola incrustada junto ao mar.” Abenção, Ubatuba, pela folia e festa do divino, pela corrida de canoas, pela folia de reis, pelo xiba, cana-verde, ciranda, tontinha, procissão de São Pedro Pescador, dança de boizinho, dança da fita, dança do chapéu, dança de quadrilha, blocos de enredo. Artesanato em madeira, palha, cipó, trançado, conchas etc. Abenção, Ubatuba, pelo peixe com banana verde, amarelo marinho, bolinho de camarão, tainha assada, caldeirada, camarão com mamão verde, caiçarinha, concertada, pixé, pato com mandioca, frango com banana verde e paçoca de banana. Abenção, Ubatuba, por se deixar tatuar o Poema à Virgem pelas mãos do Apóstolo do Brasil Santo Padre José de Anchieta, sob o Trópico de Capricórnio. Abenção, Ubatuba, ainda que permita que seres passem por ti em procissões errantes, em lufadas diacrônicas. Deixando pegadas de dor, sem a visão de uma doce sincronia, esculhambando contigo, com a falta de respeito e amor ao próximo. Mas, borá lá, na fé da eclosão da primavera em flor! Quem sabe um cortejo de átomo de luz conduza quem percorre os mesmos ideais, e os gestos de amor por ti frutifique. Abenção, Ubatuba, neste seu aniversário. Apraz-me contemplar-te, como namorados contemplam a lua. Contemplo-a com a alma agradecida por ter me dado as diversas marés que fortalecem laços ou desatam nós. Parabéns, Ubatuba, por seus horizontes e mares e montes sem fim, seu céu estrelado, de azul anilado, suas matas seus rios, seu povo abençoado!
Nota do Editor: Fátima Aparecida Carlos de Souza Barbosa dos Santos, ou simplesmente Fátima de Souza, é, sem dúvida, a primeira caiçara da sua geração a escrever sobre temas do cotidiano local. É autora de Arrelá Ubatuba.
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