Se não ficasse estranho eu abriria este artigo com a frase: Oh! Céus, meus sais! Será que deu a louca na troupe de Brasília? E o presidente Lula, que história é essa de dar bola para um artigo de jornal e reagir exatamente de acordo com o manual do "Jamais faça que é tiro no pé". Lula bebe, é claro que bebe, todos bebemos, salvo alguns que não bebem e ficam enchendo o saco dizendo pra todo mundo que não bebem. E apontando para os que bebem. Lula bebeu acima da conta em alguma recepção? Faz parte do jogo, todos já tomamos nossos pileques, principalmente em fases de grande tensão. Eu bebo, não há problema algum em beber. Pior do que beber é ser um ex-alcoólatra como Bush e armar aquele barraco no Iraque e depois não conseguir desarmar. O problema do álcool começa quando ele passa a dominar a vida das pessoas. Que eu saiba o presidente bebe em reuniões sociais. Se estivesse bebendo de manhã, logo após o café, o sinal de alerta deveria ser aceso, tomar um drink no almoço e alguns na happy hour é saudável. Aliás, para quem está próximo dos sessenta essa coisa de saudável ou não saudável não deve contar tanto. Dos sessenta para frente, salvo exceções, a regra é começar a descida da serra rumo não se sabe para onde. Lula tem um estilo pessoal. Foi com esse estilo que acabou na Presidência da República. Lula gosta de churrascos, de futebol, de cerveja, Lula gosta de tudo o que a maioria dos brasileiros gosta. Lula é o presidente do Brasil, em certas horas parece que ele mesmo duvida disso. Senão, deveria ter ligado para o jornalista do New York Times, que tomaria um enorme susto, e dito: "Olhe aqui seu gringo banana, eu sou o presidente desta grande nação e mereço respeito. Ou melhor, exijo respeito". E ponto final. Mandar o cara embora, foi uma grande, enorme, gigantesca besteira, além de promovê-lo a estrela do jornalismo internacional. O Brasil é uma nação plena de hipocrisia, diz-se uma coisa, faz-se outra. Lula nesse quesito foge à regra. Ele é o Lula, autêntico, goste-se ou não. Lula está em visível desconforto por não conseguir fazer o que gostaria, ele percebeu que governar é mais difícil do que parece. É o desconforto de alguém que mostra real preocupação com o cargo que ocupa. Lula errou ao mandar o gringo embora, se for possível reverter o erro ele deve fazê-lo. Lula deveria cogitar de ter melhores assessores, mais comprometidos com a verdade do que com a preservação do cargo. Faltou alguém para dizer: Lula, o que esse gringo escreveu, amanhã estará esquecido. O artigo passaria batido, ninguém notaria. Com a over-reaction, entrou para o folclore político da nação. O mal está feito.
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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