Quem vive o mundo da política nunca fica entediado, sempre existe a possibilidade de um quadro aparentemente sem solução mudar repentinamente de teor. Obviamente a política só muda de feição onde existe Democracia. Em Cuba os políticos morrem de tédio, tudo é sempre igual e jamais um ex-torneiro mecânico chegará ao poder. Já nos Estados Unidos, apesar das contradições do capitalismo existe Democracia. Nixon, o todo poderoso presidente que imaginou um dia ser rei, acabou posto para fora. Lembrei-me de Cuba por acaso, é que o braço direito do presidente Lula, José Dirceu, acha que Cuba é o melhor exemplo de governo do mundo. Como vivemos numa Democracia, defendo o direito dele achar o que quiser. Tenho apenas dificuldade em assimilar a existência de um membro destacado do governo que fala uma coisa e pensa outra. Fala em Democracia e defende Fidel Castro, tão democrático como os reis absolutistas de França. Mas voltando às volutas que a política dá, é bom atentar para o deputado Roberto Jefferson. O ex-gordão e agora cantor sempre cultivou a proximidade do poder, fez parte da tropa de choque de Collor, esteve na base de apoio de FHC e então descobriu que era petista desde criancinha e passou a apoiar Lula incondicionalmente. Ele parece guardar bombas no bolso do colete. Digamos que hoje o governo Lula está numa situação nada confortável. Com os juros pela hora da morte e um superávit primário nas nuvens, a álgebra social estacionou no negativo, isto é, não há dinheiro para sair do atoleiro. Para os leitores que não são familiarizados com economês, superávit primário é o dinheiro que o governo economiza para pagar juros. No Brasil, para cada real investido em educação, saneamento ou saúde, mais de setenta reais vão parar nos bolsos dos banqueiros! Lula prefere acreditar que o Brasil é uma espécie de Daslu, aquela loja de São Paulo onde uma saia custa quatro mil reais. Isso acontece com quem está no poder, os olhos ficam dotados de uma lente mágica que vê tudo róseo. A realidade, quando percebida costuma causar grandes decepções. Voltando ao deputado Roberto Jefferson, me desculpem os leitores, estou dando voltas para explicar as voltas que a política dá, mas acreditem, é difícil manter a linearidade numa situação tão destituída de lógica como a atual. Da crise nasce a luz. É a triste, porém comprovada realidade do homem. O progresso vem das guerras, o que nos traz conforto e bem-estar, na maioria dos casos, foi gestado em meio a sangue e sofrimento. É como chegamos ao mundo, em meio a sangue e sofrimento! A crise desencadeada no governo com as revelações do deputado cantor colocou Lula contra a parede e, absurdamente, poderá instigar o presidente a criar um novo país. Finalmente o Brasil se livrará do traço fisiológico que habita o coração de seus habitantes e que começou com a chegada das caravelas cabralinas. Vem aí a reforma política. Assim como Nixon, que errou feio no caso Watergate e pagou caro, Lula também errou ao não defenestrar Dirceu no momento certo. Desde então o presidente tenta apagar o fogo que se alastra. No entanto, apesar do desgaste, ele poderá passar para a história como o presidente que criou as bases para um novo Brasil, mais justo e menos hipócrita. Acreditem os leitores, isso é possível, bastando apenas que a reforma política seja implementada. Dependendo das balas na agulha de Roberto Jefferson, Lula poderá enfrentar até processo de impeachment, mas se agir rápido, ficará marcado na posteridade como o presidente que mudou o Brasil. Coragem Lula. Ou a reforma política ou nada. A bola está com você.
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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