Na Folha de domingo, 9 de maio, o jornalista Nelson de Sá comentou as matérias recentes do Jornal Nacional envolvendo o ex-prefeito e provável candidato à prefeitura de São Paulo, Sr. Paulo Salim Maluf. No texto o fato central passa a ser secundário. Os documentos com a assinatura do Sr. Maluf, enviados pela justiça suíça, mostrando ser dele os depósitos feitos naquele país, ficam num plano menor. Perdem para o peso político do personagem. Segundo o raciocínio do articulista existem indícios de manobras eleitoreiras tucanas no posicionamento da Globo. De tucanos emplumados, Serra e FHC. É exatamente o que Maluf diz. Ele está na frente nas pesquisas, divide com a prefeita Marta Suplicy as preferências dos eleitores. Quem conhece a história recente sabe ser isso comum em São Paulo, desde que Maluf apareça como candidato. Ele liderou contra Mário Covas até o início do segundo turno, esteve na frente contra Marta, embora nessa ocasião disputasse também com Geraldo Alckmin. No final, como sempre, acabou derrotado. É bom ir para o segundo turno contra Maluf. Tudo indica que sendo candidato ele estará lá. Marta quer Maluf como adversário, o PSDB quer Maluf fora da disputa. Enquanto nada for provado, Maluf tem o direito de afirmar ser inocente. As contas de fato existiram, entretanto, não estão mais na Suíça. Maluf faz como Tim Maia que dizia não beber, não fumar e não cheirar, seu único defeito era mentir um pouquinho. Maluf mentiu quando afirmou nunca ter tido contas no exterior. Teve sim, a assinatura do depósito é dele. Mentir é pecado venial, uma passadinha na missa de domingo e tudo está resolvido. Maluf é um homem religioso. O dinheiro depositado na Suíça, uma montanha dele, parece ter evaporado. Se não for encontrado será como nas novelas de Dashiell Hammett, onde o cadáver desaparece. Aliás, uma das afirmações de Maluf foi forte o suficiente para causar dúvidas. Ele disse, categórico, em entrevista para a televisão, que gostaria de ser processado para que os papéis da Suíça se tornassem públicos. Por quê? Há indícios, provas contundentes como a assinatura nos depósitos bancários e nenhum arremate, aliás, Maluf parece estar acima do bem e do mal, sempre falou e fez o que quis. Nunca teve problemas maiores, exceto na França, país cheio de petistas, ou seria de tucanos? Ainda que haja interesses políticos nas denúncias da televisão, elas são consistentes. O "Jornal Nacional", fez bem o seu trabalho. Como poderia calar? O jornalista "Arnaldo Jabor", também citado em "Toda Mídia" como acusador, apenas comentou os fatos e os desmentidos de forma irônica. Maluf é uma figura importante no panorama político nacional, tudo o que se refere a ele terá sempre desdobramentos nessa direção, apenas uma coisa a imprensa parece ter esquecido. As investigações das contas no exterior não devem ser tratadas como fatos políticos. São casos policiais com repercussões políticas. Misturar denúncias policiais com fatos políticos é uma forma de desviar a atenção do ponto central da questão. A imensa hipocrisia que campeia no Brasil e que torna impune os corruptos. Se as contas são de fato de Maluf, ele está exercendo o direito de qualquer cidadão brasileiro. É permitido ter contas no exterior. Se não for encontrada a origem dos depósitos, que deveriam estar nas declarações ao fisco, então a coisa muda de figura, o dinheiro saiu do país de forma ilegal. Até que tudo seja devidamente apurado, cabe o desafio do Sr. Maluf: quem encontrar o dinheiro pode ficar com ele. Fica claro que deve haver algum trunfo na manga do ex-prefeito. Ou ele é muito esperto ou os que o investigam são incompetentes. Talvez sejam lentos demais e aí cabe desconfiar, o tempo tem sido o maior aliado de Maluf. Não é à-toa que uma pessoa tem o nome tornado sinônimo de ato ilícito. Qualquer criança de São Paulo sabe o significado de "malufar". Onde há fumaça, presume-se que haja fogo. Menos se Maluf estiver envolvido, então a fumaça pode ser apenas "manobra do PT". "Ou dos tucanos".
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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