Bem sabe, depois que as caravanas foram passar, Todos de uma vez se puseram a observar Latidos caninos que as acompanhavam, Mas de forma alguma atrapalhavam. Outra, porém, é a sina do artista, Pois, por melhor que seja, acredita que resista A investidas cegas desses críticos? Numa palavra: são 'carreirolíticos!' Não há autor, ator ou prima dona, Seja ela encantadora ou solteirona, Que resista a um epíteto mordaz. Responderá sorrindo: Tanto faz? Pois, nesse caso, vai palpite de amigo Esse aí é o domicílio do perigo! Desprezar a corja ululante, A pretexto que o alvo segue avante, Desprezando os atos da matilha É esquecer que essa camarilha Tem o poder de vida ou de morte Sobre carreiras. Não o fazem por esporte. Mas, por serem desprovidos de ideias Destroem sem pudor obras alheias. Tão fácil é dizer: ‘Isso não presta’, Com ar soturno de um final de festa! Jogar no lixo um autor que ia avante Como fazia o Flávio Cavalcanti. Quebrava discos? muito bem , esses senhores Numa penada destroem os autores. Isso porque com seu poder mediático Ressaltam num tom denso e enfático, Ser a leitura desse pobre diabo uma besteira. Outros fizeram melhor. E a peneira Que eles ao serviço do público deixaram Soterra infelizes que tentaram Por um momento, ou menos, um segundo, Deixar o pensamento vagabundo Soltar uma imagem. Que importa Se um amor eterno escala a aorta. Mas imaginem quanta leviandade!! Exclama enfurecida a ‘autoridade’ Essa metáfora, essa alegoria Provém de quem ignora anatomia. E vão falando sobre a veia cava: ´Por ela corre sem parar a lava Dos sentimentos que esse pobre autor. Um misto de palhaço e trovador, Que de modo absoluto ignorava Ser rota do amor veia cava’. E a metáfora se perde na história, O grande crítico a retira da memória De quem por um acaso a decorasse a amasse interpretasse Rotulasse. O papel glorioso da aorta, O sofrimento? Ora, letra morta... Meus parabéns, meu caro amigo crítico, Receio agora ter que ser político. Terei que reduzir minhas patadas Pois prezo muito minhas obras publicadas. Desafiar você? Nem tento, Não vou fazer pipi contra o vento. Contudo, ó crítico, respeito-lhe o cetro, Sobeja-lhe razão pra mais de metro O seu oficio apreciaria a distância Pontificando em algum jardim de infância Impondo suas regras sem moral. Ó crítico, egresso de um Mobral E para poder espetar você de jeito Eu acrescento: Mas que Mobral mal feito! Dizia o Ionesco :estúpido animal Louvando sua mente vegetal. Quando uma ideia assim incubo, O ventilador espalha o adubo. Talvez a situação seja esquerda, Mas todo crítico, afirmo, é uma merda. (*) Do livro “Desespero Provisório”
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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