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COLUNISTA
Alexandru Solomon
19/07/2019 - 06h51
Descanso
 
 

Vezes há, quando a mente perde-se em conjecturas,
E, em busca da verdade, soberana, nas alturas,
Tenta, ao mirar do alto, a razão ou o porquê
De ser nossa existência a comédia que ela é.

É preciso estar munido de total desprendimento
Sem o qual não há saída desse corredor cinzento,
No qual tudo se comprime, adensando o mistério.
Pobre caminhar o nosso, sem escolha, sem critério.

Por saber que cá estamos por um mero acidente
Que ganhamos, sem pedi-los, sofrimentos de presente
É pretexto insuficiente pra deixar-nos revoltados.
Reclamarmos com o bispo por não sermos consultados.

É um sonho a ser vivido, ou um simples pesadelo?
Otimista é quem transforma calabouço em castelo!
Se possível, afastando para sempre o desespero.
Gênio, monstro ou retardado fazem jus ao mesmo zero.

Esse zero, por acaso, e a nota merecida.
É o triste somatório do que foi a sua vida.
O ridículo supremo o envolve pouco a pouco.
Discordar é o direito adquirido de ser louco.

Quem sonhou, um belo dia, ser o dono deste mundo,
Abiscoita o desespero, forte, intenso e profundo.
Pois em nada se alteram as andanças do planeta.
Sempre perderá as fichas, nessa mesa de roleta.

Argonauta, com coragem, achará seu velocino.
Ilusão cruel o aguarda: foi só obra do destino,
Do qual, ilusão funesta, não deixou de ser joguete.
Como se Jasão passasse de uma pobre marionete.

A vitória, que o embala, não passou de exceção.
Que o deixa vulnerável, preso à mistificação
De haver, por um momento, governado sua sorte.
O triunfo é do fraco, o fracasso é do forte.

Não resista, abandone, dê espaço a derrota.
O seu debater inútil vira alvo de chacota.
Não procure destacar-se, não irrite a torcida.
Que gargalha e festeja, comemora-lhe a ferida.

Largue tudo, renuncie e aceite o cambapé,
Mas se for preciso finja que jamais perdeu a fé.
Quando concluir seu ciclo, seu descanso será... lá.
Siga então esse conselho e descanse desde já!


Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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