É chegado o momento de subir no avião. Lenços brancos agitados, lágrimas e emoção. Romaria ruma rumo a portões de embarque. Lá, num caixa do Bradesco, o piloto faz um saque. Eis que chega atrasado, abafando palavrão. Pinta de executivo, nervos em ebulição. Pra variar, sua agência enganou-se de horário. Por um triz não se transforma em “Doutor retardatário”. O avião está lotado, mais um pouco e se vai. Nem Moisés passou por isso, na descida do Sinai, Pois, naquele episódio, ao trazer os mandamentos, Tudo fora bem mais fácil, não havia impedimentos. Mas aqui há um gerente insensível e turrão, Servo do regulamento, que não abre exceção. Mencionando a rotina que governa o aeroporto. Se declara imponente, se o pau já nasce torto. Oferece uma senha e sugere pacientar. Insensível ao drama, não pretende ajudar. O alto-falante informa: é a última chamada. A situação piora, se tornou desesperada. Já virou perda de tempo, reclamar, bater o pé. No balcão a atendente oferece um café. Ao notar desespero do cliente desolado, Tenta evitar o drama com café açucarado. Ela trouxe na corrida, esqueceu-se de pagar. O gerente se desculpa junto ao dono do bar. O problema já difícil ganha outro agravante, Não adianta cafezinho, tem de ser com adoçante. Chega a boa notícia, teve alguém que desistiu. O “Doutor” murmura algo que termina em... pariu. Sai da fila de espera e murmura em segredo: “Já venci os burocratas. Como vencerei o medo?” (*) Do livro “Versos Anacrônicos”, Ed. Totalidade
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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