A questão mais simples da ciência exata matemática talvez não tenha uma resposta única. Quanto é um mais um? Para a criança recém alfabetizada dizer algo diferente de dois é pito certo da tia. Mas será que um mais um é realmente dois? O dramaturgo William Shakespeare afirmava que em se tratando de amor verdadeiro um mais um é sempre um. Já o cantor Beto Guedes em sua linda canção O sal da terra entoa que um mais um é sempre mais que dois. A mesma pergunta feita a um comerciante sempre terá como resposta: É pra comprar ou pra vender? Já para um engenheiro, um mais um, com todos os coeficientes de segurança devidamente embutidos será no mínimo quatro, afinal a segurança em primeiro lugar. Já para um mágico com uma bolinha em cada mão a mistura delas pode render muitas unidades, até dezenas. No camelô da esquina você sempre pega um mais um, mas leva no mínimo três. Na vida, contrariamente à matemática pura, nada é de fato exato. Uma vez na casa de uma amiga ela pediu que não fizesse qualquer barulho que seu pai, matemático, estava ocupado intuindo o número um. Até hoje não faço a mínima do que significava isso, mas de qualquer forma se o simples número um precisa ser intuído a coisa é mesmo complexa. O que diria então intuir um mais um? Talvez por isso essa simples soma não tenha de fato uma resposta tão óbvia, resultado este encontrado diferente por tantos poetas e profissionais que nas suas reflexões concluíram que o mundo é visto de forma diferente por todos e que certamente toda unanimidade, como diria Nelson Rodrigues é de fato burra. Portanto, da próxima vez que você ouvir essa pergunta tão singela reflita um pouco antes de respondê-la, afinal sua resposta pode denunciar sua ignorância com relação ao aspecto filosófico de tão complexa questão.
Nota do Editor: Ricardo Yazigi é engenheiro civil, mestre em ciências pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).
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