Por razões misteriosas, o progresso não desiste. Infiltrado para sempre no insosso cotidiano, Recompensa os audazes, o passado não resiste, Uma década, agora, se completa em um ano. A miragem perigosa, sob o manto igualitário, Equipara pouco a pouco num medíocre conjunto, O pascácio e o sábio, o magnata e o proletário Nivelados são por baixo, mais por falta de assunto. E a fonte milagrosa da eterna juventude Pode parecer piada ou remédio indolor. Nem o cético lhe nega sua principal virtude, Ser agente do futuro: micro e computador. Submergidos pela onda, a terceira ou a quarta, Alvin Tofler batizando é manchete garantida. Abandona-se o escriba para redigir a carta, O Excel e companhia alicerçam-nos a vida. Houve caixas milagrosas no passado bem recente. Quem se esqueceu do rádio, da TV, do gravador, Para trás ficaram todas na mudança de ambiente, Pois convergem, se agrupam rumo ao computador. Um Spinoza, ou um Sartre, ou um Kant, ou quem quiser, Órfãos de identidade rumam junto pro arquivo, E de lá apenas saem ao comando de um qualquer Que ao digitar o Google, dará prova de estar vivo.
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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