Meu avô tinha uma versão diferente da oficial para a Intentona Comunista de 1935. Segundo ele, o Comintern trabalhou tão bem que as favas estavam contadas, expressão que usava constantemente. Nada poderia dar errado, o comunismo chegaria ao Brasil. Questão de meses. Tudo pronto para o golpe que aconteceria em 1934, os agentes de Stalin resolveram enviar um auditor para verificar os conformes. O comissário especial Walter Habben chegou ao Brasil em junho de 1934, proveniente de Marselha, disfarçado de comerciante de fumo. Especialista em comportamento de massas, fluente em português que aprendeu em Macau, na China, logo estabeleceu vínculos em todos os segmentos da sociedade. Depois de meses de pesquisas, enviou um relatório detalhado a Moscou. Contou tudo sobre o país, principalmente sobre o caráter do brasileiro. Consta que Stálin leu cuidadosamente o documento, tendo passado uma noite em claro, não se sabe se por curiosidade ou choque. O fato é que outro agente foi enviado ao Brasil e cuidou de informar à polícia de Getúlio da iminência do golpe. Stálin quando soube quem eram os brasileiros temeu pelo pior. Caso a Intentona desse certo, em pouco tempo o comunismo estaria desmoralizado no mundo. Os acontecimentos recentes, as alianças entre direita e esquerda, a promiscuidade com que se luta pelas rebarbas do poder, me fizeram ir até o cemitério e tomar uma dose de Genebra no túmulo de vovô.
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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